quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O tempo dos frutos maduros



Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que  se deseja debaixo do céu (Ecl. 3:1).

No hemisfério norte fazemos habitualmente um período de férias em pleno verão, em torno do mês de Agosto. Procuramos aproveitar assim os dias longos e o calor, propícios à vida ao ar livre, ao usufruto da natureza, ao lazer, à sociabilidade e à exteriorização. Porém, partimos de um pressuposto incorrecto quando associamos o tempo quente ao repouso e ao dolce far niente, guardando todas a iniciativas para o outono. É verdade que a isso somos quase forçados pelos calendários oficiais; mas a realidade que a natureza revela é outra.

A energia do verão é da natureza do fogo, como bem sabemos. As cores do verão são quentes, tal como o ar; a pele arde debaixo do sol, os incêndios lavram sem misericórdia, e todos procuram sombras e humidade. A sua força conduz ao crescimento máximo de todos os jovens rebentos e crias da primavera, que devem estar fortes e desenvolvidos para suportar os rigores do próximo inverno. Na natureza, tudo atinge a sua plenitude no verão – as árvores oferecem os seus frutos naturalmente amadurecidos, a terra dá espigas pejadas de grão. Este é o tempo da revelação, da sensualidade à flor da pele, da alegria e do riso. 

A energia vibrante do verão está relacionada com a maturação, ou com a maturidade do Ser. O fruto tímido da primavera precisava da árvore para crescer, mas está agora plenamente desenvolvido. Já não precisa da seiva que o alimentava, e se não for colhido cairá por si próprio, de forma a espalhar as sementes e continuar o seu ciclo. O verão corresponde ao ser humano adulto e completo, capaz de pensar por si, de cuidar de si e de criar e manter uma família. 

Embora seja fácil compreender que todos os tipos de energia são necessários e devem estar em equilíbrio, há épocas em que uma destas formas deve naturalmente dominar. No início da vida somos governados pela energia primaveril, que rege o nascimento, a infância e a juventude de todos os seres. Depois, precisamos deste tipo de energia estival, quente e voltada para o exterior para sermos seres independentes e auto-suficientes. Mais tarde devemos entregar-nos à energia do outono, que nos exorta a deixar partir tudo o que já não pertence nas nossas vidas, aligeirando as cargas supérfluas tal como as árvores deixam cair as folhas. Perdemos o ardor com o qual competíamos no mundo, na profissão ou no amor. Vemos os filhos sair de casa, trocamo-la por uma casa mais pequena, deixamos para trás muitas ilusões e desejos vãos. Por fim, é tempo de aceitar a energia do inverno, que pede silêncio, lentidão e interioridade. Se soubermos viver com as estações, este é o tempo de reflexão, da meditação e do encontro com o Ser, finalmente despojado de todos os acessórios inúteis.

Portanto, a energia do verão deve ser mais forte durante o “verão” das nossas vidas, quando nos afirmamos na profissão, fundamos um lar e criamos a nossa própria família, e nos definimos diante da comunidade. Esta será sempre uma etapa mais penosa para aqueles em quem o “fogo” vital é fraco (embora o seu excesso traga iguais dificuldades). A vivência consciente do verão pode ser um bom auxílio para quem se sinta carente desta energia fogosa, afirmativa e extrovertida, sem a qual não podemos revelar-nos ao mundo, atingir a plenitude do nosso ser social, oferecer os nossos dons à comunidade, criar e dar substância aos sonhos e encontrar um “lugar ao sol”.

Que o sol que brilha no céu seja a nossa inspiração para estes dias. Que a sua luz nos guie todas as manhãs, e o seu calor nos embale todas as noites. Que a sua energia nos conduza para fora de nós próprios, em direcção as outros. Que possamos colher maduros os frutos que semeámos, desfrutando deles entre aqueles que amamos. Que todos os nossos sentidos despertem e a alegria jorre para a nossa vida.