Para tudo há um momento e um tempo
para cada coisa que se deseja debaixo do céu (Ecl. 3:1).
No
hemisfério norte fazemos habitualmente um período de férias em pleno verão, em
torno do mês de Agosto. Procuramos aproveitar assim os dias longos e o calor,
propícios à vida ao ar livre, ao usufruto da natureza, ao lazer, à
sociabilidade e à exteriorização. Porém, partimos de um pressuposto incorrecto
quando associamos o tempo quente ao repouso e ao dolce far niente, guardando todas a iniciativas para o outono. É
verdade que a isso somos quase forçados pelos calendários oficiais; mas a
realidade que a natureza revela é outra.
A energia do
verão é da natureza do fogo, como bem sabemos. As cores do verão são quentes,
tal como o ar; a pele arde debaixo do sol, os incêndios lavram sem misericórdia,
e todos procuram sombras e humidade. A sua força conduz ao crescimento máximo de
todos os jovens rebentos e crias da primavera, que devem estar fortes e desenvolvidos
para suportar os rigores do próximo inverno. Na natureza, tudo atinge a sua plenitude
no verão – as árvores oferecem os seus frutos naturalmente amadurecidos, a
terra dá espigas pejadas de grão. Este é o tempo da revelação, da sensualidade à
flor da pele, da alegria e do riso.
A energia
vibrante do verão está relacionada com a maturação, ou com a maturidade do Ser.
O fruto tímido da primavera precisava da árvore para crescer, mas está agora
plenamente desenvolvido. Já não precisa da seiva que o alimentava, e se não for
colhido cairá por si próprio, de forma a espalhar as sementes e continuar o seu
ciclo. O verão corresponde ao ser humano adulto e completo, capaz de pensar por
si, de cuidar de si e de criar e manter uma família.
Embora
seja fácil compreender que todos os tipos de energia são necessários e devem
estar em equilíbrio, há épocas em que uma destas formas deve naturalmente
dominar. No início da vida somos governados pela energia primaveril, que rege o
nascimento, a infância e a juventude de todos os seres. Depois, precisamos deste
tipo de energia estival, quente e voltada para o exterior para sermos seres
independentes e auto-suficientes. Mais tarde devemos entregar-nos à energia do outono,
que nos exorta a deixar partir tudo o que já não pertence nas nossas vidas,
aligeirando as cargas supérfluas tal como as árvores deixam cair as folhas. Perdemos
o ardor com o qual competíamos no mundo, na profissão ou no amor. Vemos os filhos
sair de casa, trocamo-la por uma casa mais pequena, deixamos para trás muitas
ilusões e desejos vãos. Por fim, é tempo de aceitar a energia do inverno, que
pede silêncio, lentidão e interioridade. Se soubermos viver com as estações,
este é o tempo de reflexão, da meditação e do encontro com o Ser, finalmente
despojado de todos os acessórios inúteis.
Portanto,
a energia do verão deve ser mais forte durante o “verão” das nossas vidas, quando
nos afirmamos na profissão, fundamos um lar e criamos a nossa própria família, e
nos definimos diante da comunidade. Esta será sempre uma etapa mais penosa para
aqueles em quem o “fogo” vital é fraco (embora o seu excesso traga iguais
dificuldades). A vivência consciente do verão pode ser um bom auxílio para quem
se sinta carente desta energia fogosa, afirmativa e extrovertida, sem a qual não
podemos revelar-nos ao mundo, atingir a plenitude do nosso ser social, oferecer
os nossos dons à comunidade, criar e dar substância aos sonhos e encontrar um “lugar
ao sol”.
Que
o sol que brilha no céu seja a nossa inspiração para estes dias. Que a sua luz
nos guie todas as manhãs, e o seu calor nos embale todas as noites. Que a sua
energia nos conduza para fora de nós próprios, em direcção as outros. Que possamos
colher maduros os frutos que semeámos, desfrutando deles entre aqueles que amamos.
Que todos os nossos sentidos despertem e a alegria jorre para a nossa vida.