Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos
tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da
crença, foi a época da incredulidade, foi a estação da luz, foi a estação das
trevas, foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero, tínhamos tudo
diante de nós, nada tínhamos diante de nós, íamos todos para o Paraíso, íamos todos no sentido contrário (…).
“Um conto de duas cidades”, Charles Dickens
Apesar de tudo, este não é um texto sobre política. Mas o mínimo que se pode dizer é que vivemos tempos
conturbados. São inúmeras as razões que
contribuíram para tal, e, se a nossa situação presente se encontra reflectida
nos astros, estes não são os culpados. Podem, no entanto,
ajudar-nos a compreender melhor o pano de fundo, as potencialidades e a duração
provável das crises globais que agitam o mundo.
Plutão está em
Capricórnio desde 2008, e estará aí até 2023. Esta conjuntura forma o contexto
“ideal” para os desenvolvimentos a que diariamente assistimos, e tem sido
amplamente discutida pelos astrólogos. Mas neste instante ocorre outro fenómeno
astrológico ao mesmo tempo fascinante e tremendo: uma quadratura exacta entre
este Plutão em Capricórnio, e Urano, que está em Carneiro (com total precisão,
o encontro dá-se a 20 de setembro).
Urano é o
planeta que rege os movimentos de abertura à novidade, de quebra de hábitos, de
mudança de valores e paradigmas, e a liberdade e independência. Plutão é "o grande transformador”, uma força profunda e
poderosa, que uma vez activa nada pode deter; mas também simboliza o poder,
nomeadamente o poder instituído, ou aqueles que têm poder sobre nós.
Carneiro e
Capricórnio são dois signos cardinais e de elementos considerados incompatíveis
(terra e fogo). Carneiro tem
a ver com começos, avanços, liderança, motivação, urgência, impaciência, e até agressividade. Capricórnio é do elemento terra - sólido, estruturado e sóbrio.
Carneiro gosta de começar projectos, e Capricórnio está mais à vontade com a
sua conclusão: não aprecia mudanças, apoia o poder e a ordem instituída, e
trabalha de forma teimosa e persistente, às vezes subterrânea, para
lentamente alcançar as suas metas.
Se já é
desconfortável a presença de Plutão, o
destruidor, em Capricórnio, abalando as estruturas conhecidas e alterando
planos (algo que Capricórnio não aprecia nada), imagine-se quando há um
encontro pouco simpático (quadratura) entre este Urano desejoso de novidades,
auxiliado pela energia pioneira e fogosa de Carneiro, e um Plutão poderosamente
inquieto, aprisionado nas estruturas e nos planos relativamente rígidos de
Capricórnio, que por sua vez se sente ameaçado com a energia em ebulição do
planeta da morte e da renovação.
Caso estivéssemos
diante de uma conjunção dos dois planetas (um encontro harmónico),
poderíamos esperar colaboração entre os ímpetos revolucionários de um e a
capacidade de arrasar estruturas do outro. As mudanças na sociedade seriam
imparáveis, semelhantes ao rio que transborda do leito e quebra todos os
diques. Mas uma quadratura, que aliás já tivemos em Junho, e que voltaremos a
enfrentar uma a duas vezes por ano nos próximos 3 anos, é diferente. Antes de
mais, é um indicativo da forma como devemos ver os tempos que vivemos. Este é um
encontro tenso, onde duas forças que poderiam colaborar com o mesmo propósito
se confrontam numa luta de titãs. As mudanças serão inevitáveis, mas em
vez de irromperem de uma vez, avançando como a onda de um tsunami, são contidas
até ao limite explosivo. O combate entre as duas poderosas energias que neste momento
se recusam a colaborar atrasa o processo, causando tensões e pressões quase
insuportáveis e criando um enorme desafio à humanidade.
Estas
circunstâncias afectam sobretudo o mundo, globalmente, e os seus efeitos
medem-se em gerações, visto que se trata de planetas lentos e impessoais. Mas
quase todos, no fundo, sentimos os seus efeitos. Sabemos que é necessária uma
mudança, tanto pessoal (individual) como colectiva. Urano dá-nos a consciência
da necessidade de nos libertarmos dos velhos paradigmas, de condições
opressivas, de limites demasiado restritos para o ser humano, e Carneiro
empurra-nos para a acção, para as manifestações públicas, para uma inquietação
que conduz, por vezes, à acção agressiva. Mas por outro lado o medo
capricorniano da desestruturação obriga-nos (a
nós e a quem nos governa), quase sempre inconscientemente, a tentar manter o status
quo, apesar de todas as velhas instituições e formas de acção estarem já
plutonicamente minadas por dentro e condenadas à destruição. Afinal, o lado negativo de
Capricórnio representa as grandes sociedades económicas internacionais, os governos
autoritários e os sistemas de pensamento totalitários, rígidos e esclerosados.
De forma geral,
podemos talvez considerar que nesta fase da História o conjunto dos cidadãos é representado por
Urano, e que Plutão é o campeão dos sistemas instituídos – governos,
instituições financeiras, etc.
Em tais circunstâncias, é escusado esperar colaboração entre ambos. A tensão e o extremar das posições não verão alívio, mas antes serão levados ao
limite, até que todo o sistema colapse, para ser então substituído por formas
novas.
Porém, nem tudo
é cinzento. Uma vez que Urano, ao entrar em Carneiro, começou um ciclo novo
(Carneiro é o primeiro signo do zodíaco), e cada ciclo uraniano dura cerca de
84 anos, podemos esperar que a sua mensagem saia vitoriosa, embora tal só
aconteça depois de um parto longo e difícil. Por outro lado, Plutão não é
apenas o senhor da morte e da destruição, mas igualmente do renascimento e da
regeneração. Uma vez passados os tempos difíceis, ser-nos-á dada a hipótese de habitar um mundo novo.
Não vale a pena
perder tempo a lamentar a forma árdua e penosa na qual o futuro nos
chega. Estas são as circunstâncias mais adequadas à situação que criámos no
passado, e temos de as viver até à sua culminação. Vale a pena, isso sim,
compreender o esquema geral para nele colaborarmos, em vez de contribuirmos
para tornar tudo ainda mais difícil. É chegado o tempo de nos unirmos contra o
verdadeiro “inimigo”, que é o medo da mudança, a estreiteza de mentalidades e o
apego ao passado. Cada um terá de enfrentar estes desafios dentro de si, nas
suas circunstâncias de vida particulares – todas tão distintas – e todos
teremos de os enfrentar no exterior, onde ocupamos o mesmo barco. É fundamental
aproveitar estes tempos para rever a forma como estamos presentes no mundo,
como nos relacionamos com a nossa comunidade, com a sociedade e com a Humanidade como
um todo, que tipo de participação queremos ter na construção do futuro, e qual
o nosso grau de responsabilidade pessoal e social.