terça-feira, 29 de maio de 2012

O Sangue da Lua (I)



Desde as épocas mais arcaicas, o mistério feminino da menstruação foi reverenciado e temido em praticamente todas as sociedades. A sua ligação com as fases da Lua, e o facto do ciclo médio feminino (28 dias) corresponder exactamente a uma lunação, não podia passar despercebida, e só serviu para aumentar o carácter sagrado desta relação íntima e exclusiva entre as mulheres e a Natureza. Do assombro causado pelo fenómeno nasceram inúmeros mitos e rituais, e a crença generalizada de que o próprio sangue menstrual daria origem à criança que crescia no útero. Entre os Maoris, em diversas tribos africanas, e até em relatos hindus, os bebés são formados de sangue menstrual coagulado, o que para Aristóteles e Plínio correspondia a uma verdade (pré) científica.

Diversos mitos do Médio Oriente relatam a criação da Humanidade a partir de terra misturada com sangue menstrual, e esta concepção encontra-se mesmo no nome de Adão, o primeiro homem, da palavra hebraica que significa “sangue” (dam). O feminino de Adão, ou adamah, significa por sua vez “terra” (chão), mas também “vermelho”. No Génesis, Adão é formado a partir de adamah, a terra vermelha ou ensanguentada à qual Deus insufla então o sopro da vida. Também no Corão se pode ler que Allah criou o homem a partir de alaqa, um coágulo de sangue. Tais histórias repetem-se por todo o globo, encontrando-se relatos semelhantes na América do Sul ou nos mais arcaicos mitos gregos e romanos.

Naturalmente, o poder vivificante do sangue menstrual fazia dele um "elixir da longevidade" e uma cura poderosa. Indícios destas crenças encontram-se em lendas que referem o sangue da Lua ou o vinho da deusa, ou o sangue da sabedoria da mitologia nórdica, bebido pelos deuses de forma equivalente ao Soma indiano, ao sangue de Ísis (Sa) egípcio, ao Amrita persa ou à Ambrósia da imortalidade do Olimpo grego. O banho revigorante no líquido que guarda a essência da vida também faz parte de inúmeras histórias, e a convicção de que a união sexual com uma mulher menstruada daria ao homem poderes extraordinários, ou até a vida eterna, encontra-se em diversos textos tântricos e taoistas.

Estas são as mais antigas versões de uma história que o tempo adulterou inteiramente. Com o desenvolvimento das sociedades patriarcais, tais crenças foram sendo disfarçadas ou substituídas por outras, nas quais a reverência pelo sangue uterino passa a temor, e finalmente a aversão. A palavra hebraica dam (sangue) viria a significar “mulher” noutras línguas indo-europeias (damsel, madam, dama, dame), e também “maldição” ou “amaldiçoado” (damned, danado, etc.). O latim damnare significa "condenar", e provém de damnum, "prejuízo, perda ou ferida”, o que neste contexto não podia ser mais explícito.

Aos poucos, as classes sacerdotais patriarcais foram revendo os mistérios das mulheres de acordo com os seus preconceitos próprios. Se estes preconceitos estavam em parte baseados na ignorância e no desejo de tomar o poder às sociedades tendencialmente matriarcais, eram também consequência do desenvolvimento do pensamento simbólico, este especificamente masculino, e de certa forma oposto à vivência do corpo que caracteriza o universo feminino. Talvez não seja descabido dizer que a sacralidade dos ciclos das mulheres, harmonizados com os ritmos cósmicos e naturais, e dos quais resulta toda a vida humana, se perdeu de vista quando os homens lhes tentaram sobrepor o pensamento abstracto e simbólico. O Feminino é literal, material e corpóreo, enquanto o Masculino é simbólico, sublimado e mental.

A partir daqui, surgem muitas das interdições à mulher que menstrua: o contacto com o seu sangue, o mesmo que antigamente dava a imortalidade, pode agora causar a morte, a doença, a cegueira, a perda de virilidade. Das leis brâmanes e mitos védicos ao Talmude, dos preceitos zoroastrianos à tradição rabínica, dos relatos de Plínio às superstições cristãs, o perigo que o sangue uterino representa é anunciado em todas as tradições. As mulheres que sangram são afastadas da comida, dos homens, da comunidade, dos templos. Nada, afirma São Jerónimo, é tão impuro como uma mulher menstruada.

O pensamento científico apenas desmistificou parte destas crenças. Até ao século XX, médicos e cientistas ainda se referiram à menstruação como uma patologia e à mulher menstruada como um ser débil. Todas aquelas que lêem este texto devem ainda recordar a interdição de fazer desporto, tomar banho, lavar o cabelo ou bater ovos, entre outras…

E onde todos estes mitos caíram por terra, surgiu outra ameaça aos mistérios femininos, talvez a mais insidiosa de todas: a sugestão de que estes não existem. Na sociedade actual, “moderna” mas ainda indubitavelmente patriarcal, cujo altar é o da Razão e da Ciência, o sangramento mensal não passa de um pequeno incómodo ultrapassável – e que um dia será definitivamente posto de parte pelos avanços da farmacêutica. A mulher moderna tem ao seu dispor tratamentos hormonais, analgésicos e barreiras discretas e eficazes que lhe permitem domesticar o ciclo menstrual, anular os seus incómodos, esquecer-se da sua existência. Pode viver uma vida igual à do homem.  

E no entanto, o mistério do derrame de sangue como sinal de amadurecimento chegou a impressionar tanto os seres humanos que condicionou até mesmo os ritos de passagem masculinos. Em diversas sociedades tradicionais, também aos rapazinhos no limiar da idade adulta era provocado sangramento, reproduzindo-se neles a misteriosa “ferida” arquetípica que abria as meninas à comunhão com os ritmos cósmicos. Hoje em dia só elas continuam a enfrentar este rito de passagem, já que apenas na mulher ele acontece naturalmente. É isto uma maldição, ou uma oportunidade extraordinária para todas nós?

Ainda que se tenha perdido o contexto sagrado da menstruação, a sua vivência física mantém-se. Menstruação, gravidez e parto, menopausa: o corpo da mulher é um verdadeiro “fio de Ariadne” para quem quiser aventurar-se pelo labirinto do Feminino e dos seus mistérios. Ao contrário da mente, o corpo não mente. E o corpo do mundo é feminino.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Poder do Útero (II)



Então não existia o não-existente nem o existente: não existia o espaço do ar, nem o céu acima dele.
(…)
A escuridão existia: o Todo inicial revelado na escuridão era caos indiscriminado. Tudo aquilo que então existia era vazio e informe: pelo grande poder do Calor foi criado este Um.
Hino da Criação, Rig Veda (texto sagrado hindu)

A forma como a nossa sociedade tem visto os órgãos sexuais e reprodutivos da mulher reflecte a ignorância generalizada no Ocidente moderno sobre a noção de vazio. O vazio original é glorificado, em muitas tradições, como uma representação da Grande Mãe cósmica, o útero escuro de onde brota toda a manifestação, um espaço pleno de energia. Um dos mais famosos Sutras budistas, o MahaPrajnaparamita Hridaya (Sutra do Coração), afirma que a Vacuidade é o fundamento da existência de todas as coisas: a Forma é o Vazio, o Vazio é a Forma. Na tradição hindu, um dos significados de Sunyata, o Vazio, é a força vital latente criando interminavelmente a Realidade. E mesmo na Bíblia o vazio é o princípio de toda a criação - no princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia

Finalmente, no ano passado (2011) um grupo de físicos observou directamente, e pela primeira vez, partículas de luz nascendo e extinguindo-se no vácuo cósmico, dando realidade à possibilidade de “algo” provir do nada, já prevista pela mecânica quântica. O vazio está pleno de potencialidades.

No entanto, a noção de que o vazio equivale à falta de algo predomina na nossa sociedade essencialmente quantitativa e materialista, que teme, como Pascal, o “silêncio dos espaços infinitos” e vê na ausência aparente um sinónimo da própria morte.
 
E o útero feminino, esse vazio por excelência, bem como o espaço da vagina, são, para um psicólogo como Freud, símbolos de ausência. É em torno desta concepção que Freud desenvolve a sua teoria da inveja do pénis, levando mais tarde Lacan (que desmonta parte da hipótese freudiana) à provocante afirmação la Femme n'existe pas. Neste sentido, a Mulher não existe porque as mulheres são desprovidas de significante, ou símbolo que as represente globalmente, sendo que o único significante universalmente reconhecido para o género humano seria o falo masculino.

A sexualidade feminina ganha assim a sua aura negativa. Por um lado, a Mulher é a matriz da vida, sendo objecto físico de desejo na medida em as suas formas arredondadas reproduzem e evocam a forma da fonte de toda a vida (poder-se-ia dizer que o corpo feminino é uma revelação do seu mistério interior, a rotundidade uterina). Porém, ela é também temida, e é-o justamente na sua dimensão vazia, aquilo a que Lacan chama de privação: não faltando nada à mulher, já que possui a sua estrutura sexual própria (ao contrário do enunciado de Freud), ela está no entanto privada de algo – o falo, naturalmente. E privação, ausência, equivalem no dicionário da misoginia à própria morte. Desta maneira o berço torna-se sepultura, e a fonte da vida é temida como o negro abismo onde se perdem as almas. 

E portanto a Mulher de Lacan não existe, embora todas as mulheres existam… o que, de certa forma, poderia justificar o eterno drama masculino expresso na interrogação “o que querem afinal as mulheres?”. Mas a esta pergunta nem as próprias poderiam responder, porque sem significante nada pode ser dito da mulher (rien ne peut se dire de la femme, dizia ainda o psicanalista francês) – a Mulher é silêncio, e o Homem (ou o seu falo) é a palavra. O falo é a fala.

O que não é inteiramente desprovido de sentido. Na verdade, a Mulher e o seu útero são o silêncio no qual ecoa a Palavra cósmica ou divina, o logos ou Verbo. Na tradição cristã esta simbólica essencial está perfeitamente explícita: recebendo e aceitando o Verbo divino - faça-se em mim segundo a tua palavra - Maria gerou a incarnação desta mesma Palavra. Em Cristo, e segundo a expressão de São João, o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. Este é, de resto, o Verbo primordial (No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. (…) Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência) que criou o mundo a partir do Vazio original (Deus disse: «Faça-se a luz», e a luz foi feita).

Então, sem vazio, onde ecoaria o Verbo? Sem silêncio, onde soaria a Palavra? A resposta é evidente: sem vazio não existe som, não existe linguagem, não existe Verbo criador. Se o Masculino fornece o impulso inicial e a orientação à manifestação, o Feminino fornece-lhe a forma e a substância. Ao contrário do que pressupõe a análise freudiana, o vazio dos órgãos femininos não é meramente o “negativo” do órgão masculino. Sendo agora a nossa vez de provocar, porque não dizer mesmo que o “nada” feminino é o molde do “algo” masculino?

O escultor recorre a um molde oco, onde é vazado o metal de que é feita a escultura. O oco, o vazio, é a matriz da criação; e assim será igualmente com o vazio uterino. O útero é como o poço cantado nos versos de um dos mais antigos escritos chineses, o Tao Te Ching, que compara a sua forma vazia ao próprio Tao (o Absoluto):

O Tao é como um poço:
Usado mas nunca esgotado.
É como o vazio eterno:
Cheio de infinitas possibilidades.

Está escondido mas sempre presente.
Não sei quem o deu à luz.
É mais antigo que Deus.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eclipse da Lua Nova - o futuro começa hoje


Este domingo estaremos sob a influência de uma Lua Nova e de um eclipse solar anelar, que infelizmente não poderemos ver (será visível apenas na Ásia, no Pacifico e na América do Norte, e apenas a China, o Japão e parte dos EUA poderão observar o anel de fogo na sua totalidade). No entanto, não deixaremos de ser influenciados pelo simbolismo deste momento, que terá o seu “par” no eclipse lunar de 4 de junho. Neste domingo a Lua ocultará até 94% da face do Sol no grau 0 de Gémeos, havendo ainda um raríssimo alinhamento da Terra, do Sol, da Lua e da constelação das Plêiades.
Alcione, a estrela principal da constelação das “sete irmãs”, que é na realidade um agrupamento de estrelas (uma “estrela de estrelas”, segundo os registos babilónicos) está precisamente no grau 0 de Gémeos, permitindo um alinhamento perfeito. Aqueles que mantêm a crença na já famosa “profecia maia” (inscrição maia aludindo a um acontecimento cataclísmico que levaria à destruição da Terra em 2012) esperam este evento cósmico como um sinal precursor da sua realização, uma vez que Alcione e as Plêiades assumiriam supostamente um papel muito significativo na sua cosmologia. Consideradas tradicionalmente como estrelas da chuva, as Plêiades trariam não apenas a chuva que fertiliza os campos, mas também a tempestade que provoca cheias e inundações – ou as lágrimas dos homens.

As Plêiades, Elihu Vedder, 1885
Embora possamos ter como seguro que o despertar de Alcione não deve ser temido como sinal de uma catástrofe iminente, será sensato ficar atento ao que se passa dentro de nós mesmos. No nosso próprio microcosmo, o alinhamento da Terra, do Sol e da Lua com a mais brilhante das estrelas chorosas poderá ser sentido com particular intensidade. Até porque Neptuno, o planeta baptizado com o nome do deus dos oceanos, formará um ângulo desfavorável com o eclipse, favorecendo problemas com as águas sob qualquer manifestação. Estes problemas poderão estar eventualmente relacionados com as “águas do inconsciente”, tantas vezes pantanosas, despoletando recordações e sentimentos confusos e ambíguos. Estando todos nós sob o efeito de Vénus retrógrado, devemos ficar atentos ao poder de Neptuno em aspecto desfavorável, sabendo que potencia o escapismo em relação ao presente (qualquer tentativa de fuga à realidade, incluindo o abuso de drogas e álcool), o refúgio nas memórias do passado, a fantasia e o devaneio inconsequente, a ansiedade e a incoerência.
Por outro lado, e ainda durante o eclipse, Vénus fará um ângulo muito favorável com Saturno, favorecendo os compromissos, a lealdade, o respeito mútuo e a estabilidade nos relacionamentos amorosos. A capacidade de diálogo pode crescer (Vénus está em Gémeos), e planos ou situações pouco definidos podem começar a ganhar contornos mais nítidos. Quer como amigos, quer como amantes, temos a possibilidade de crescer em maturidade. É verdade que esta tendência pode também arrefecer algumas relações, mas isso provavelmente significa que se baseavam principalmente num entusiasmo passageiro, que não suporta o realismo saturnino. Esta conjunção vem beneficiar sobretudo os amantes mais amadurecidos, reforçando a sua capacidade de desfrutar profundamente do presente vivido em conjunto.
No caso das relações sólidas, e apesar da influência de Vénus retrógrado (até 27 de junho), este aspecto deverá prevalecer sobre as lágrimas, as dúvidas e a melancolia neptunianas. Com atenção e serenidade poderemos mesmo descobrir uma nova faceta nos nossos relacionamentos – a capacidade de expansão do coração e de amor universal, a compaixão e a empatia com o outro e a vivência espiritualizada dos relacionamentos, dons que Neptuno confere na sua oitava superior. Em certa medida, e dependendo do nosso grau de consciência e vigilância, a escolha é nossa.


Eclipse solar em Stonehenge, William Blake
De resto, o eclipse solar de 20 de maio promete ser muito benéfico de forma geral. Júpiter estará em conjunção com este acontecimento cósmico, contribuindo para a energia positiva da Lua, que é sempre multiplicada durante um eclipse. Logo no dia seguinte, a 21 de maio, Mercúrio e Júpiter estarão conjuntos em Gémeos, anunciando boas notícias de forma geral, e facilitando aquilo que é de esperar de qualquer Lua Nova e eclipse solar: novos princípios. Embora não seja aconselhável tomar decisões fundamentais nos dias próximos aos eclipses, este fim-de-semana será um eixo de viragem para o futuro: como em todas as luas novas, é tempo de deixar partir aquilo que já não nos serve e receber o Novo. Isto é propiciado pelo encontro entre Mercúrio, a Lua Nova e Júpiter, que abrem o caminho do futuro, e até mesmo pela quadratura inevitável entre Júpiter e este Neptuno “atormentado”, abrindo espaço para a libertação de emoções antigas. Resistir às mudanças que a vida propõe não é sensato, e para nos encaminhar nas necessárias metamorfoses temos justamente a ajuda de Mercúrio e da Lua Nova e eclipse em Gémeos, signo regido pelo deus das transmutações.
O cuidado principal a ter durante este período diz respeito à influência de Neptuno, mas também este ponto pode ser entendido como positivo, se servir o propósito real de todas as influências cósmicas: o de nos proporcionar lições e insights. Atenção à distinção entre o real e o ilusório, e à tentativa de fuga ao momento presente: a vida é aqui e agora.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Dia da Espiga e a Festa da Ascensão



As tradições que conservam uma relação com os ritmos da natureza, e que harmonizam o nosso dia-a-dia profano com o carácter sagrado destes mesmos ritmos, estão a perder-se no mundo ocidental. Isto tem como duplo efeito a dessacralização da vida quotidiana, que se resume então aos afazeres vulgares e ao tempo de lazer – sem o terceiro elemento dos “dias especiais”, que nos impeliam a uma subida, ainda que provisória, do nível de consciência – e a perda de sensibilidade para um tempo natural, orgânico e real, por oposição ao tempo artificial imposto pelo relógio e pelo calendário. Como exemplo disto, vemos que mesmo entre aqueles que hoje ainda compram ou colhem o ramo do Dia da Espiga, poucos conhecem já o seu significado.

Actualmente celebrado na Quinta-feira da Ascensão, o Dia da Espiga é a versão nacional dos antigos rituais de celebração da Primavera e consagração da natureza e das colheitas. Apesar do contexto cristianizado, alguns costumes difundidos por toda a Europa ainda revestem este antiquíssimo cunho agrícola, como a bênção de cereais e uvas que por vezes decorre durante a missa, ou a bênção dos “primeiros frutos” hoje efectuada nos três dias que antecedem a Ascensão. Estes gestos recordam o carácter mágico desta época, quando em toda a parte se assistia à manifestação da vida vegetal e animal após a letargia do frio do inverno. O Dia da Espiga reproduz também outra tradição nacional, a das Maias, festejada a 1 de Maio com a colocação de giestas ou outras flores amarelas nas portas e janelas das casas, como forma de receber e celebrar a fertilidade da natureza e esconjurar o mal.

O Dia da Espiga não se limitava, no entanto, à colheita do ramo e ao enfeitar das portas. Esta foi já uma das datas mais festivas do ano, considerada mesmo como o dia mais santo do calendário, e observada em muitas regiões do país com uma paragem de todos os trabalhos equivalente ao domingo, acreditando-se que nele a própria natureza suspendia toda a sua actividade. No Cancioneiro Popular Português pode ler-se: se os passarinhos soubessem / Quando é dia d'Ascensão / Nem subiam ao seu ninho / Nem punham o pé no chão

A “natureza suspensa” está também presente na antiga crença da Hora, aquela que decorre entre o meio-dia solar e a uma hora da tarde, quando "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". Este era o momento ideal para a colheita do ramo, composto por espigas, malmequeres brancos e amarelos, papoilas, ramos de oliveira, folhas de videira e alecrim. As espigas simbolizam o pão, que se desejava abundante durante todo o ano; a videira representa o vinho, ao mesmo tempo “sangue de Cristo” e fonte de alegria para o camponês; os malmequeres são o ouro e a prata; as papoilas evocam a cor do sangue, e representam o amor, a vida e a fertilidade; o azeite “que tempera e alumia” é também símbolo da paz; e o alecrim, erva usada para defumar as casas e os doentes, dá saúde e afasta as influências maléficas.

Este ramo deve ser colocado todos os anos por detrás da porta de entrada, ou sobre a chaminé da cozinha, de forma a proteger o lar (também simbolizado pelo fogo doméstico) e a trazer-lhe abundância. Por vezes guardava-se junto do ramo uma fatia ou um pequeno pão, para garantir que este não faltaria.
Ascensão de Cristo, Perugino, 1510

Por ser coincidente com a Quinta-feira da Ascensão, o Dia da Espiga é uma data móvel que segue o calendário litúrgico cristão. A festa cristã é também bastante antiga, seguramente anterior ao século V. Desde então observa-se nesta data uma vigília nocturna, que representa a expectativa da glorificação de Cristo. A Quinta-feira da Ascensão possui em comum com o Dia da Espiga o mote da esperança, que na origem pagã dos rituais da natureza se traduzia na esperança da abundância das colheitas após o adormecimento invernal, e em ambiente cristão é a esperança da salvação e da ressurreição dos mortos. Numa e noutra comemoração assistimos à vitória da Vida sobre a Morte.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Viver no presente: a lição de Vénus retrógrado



Já estamos há algum tempo sob a influência do iminente movimento retrógrado de Vénus, mas o trânsito tem início efectivo hoje, dia 15 de maio. Até 27 de junho, todo o potencial venusiano presente na Terra (tanto de forma colectiva como individual) estará focado no passado.

O ponto alto deste trânsito de Vénus será, sem dúvida, o seu raro desfile diante do Sol a 5 de junho, do qual falaremos com mais detalhe noutra ocasião. A passagem de um planeta diante do Sol causa um eclipse solar, mesmo que o planeta – como acontece com Vénus – esteja de tal forma distante da Terra que a visão do astro-rei não chegue a ser afectada. Um eclipse solar marca um novo princípio, e este surge sob os auspícios de Vénus, cuja face voltada para nós estará escurecida. No que respeita a Vénus, a “novidade” é a sua passagem a Estrela da Manhã, ou à fase diurna do planeta, tradicionalmente considerada “masculina” e benéfica. No que respeita a todos nós, a luz do Sol será lançada sobre o que jaz oculto nos domínios da deusa, mostrando-o na mais rigorosa verdade.

Vénus conduz-nos na direcção de todos os relacionamentos com o mundo exterior aos quais atribuímos um valor palpável, físico ou material. Isto significa, para além das relações humanas, a nossa relação com o dinheiro e os valores materiais, a nossa relação com a aparência das coisas (aquilo que consideramos belo) e a nossa relação com tudo o que nos traz prazer. E quando falamos de relação, falamos sempre de nós e do outro – seja ele outra pessoa, um carro, uma casa ou uma conta bancária, a nossa imagem devolvida num espelho, ou o prato que escolhemos num restaurante. O enfrentar deste “outro” ensina-nos quase tudo sobre nós mesmos. Até mesmo um momento tão banal como a leitura do menu do almoço proporciona a oportunidade de nos descobrirmos como seres moderados, frugais ou excessivos.

Esta projecção – o “outro” como nosso espelho – é de natureza venusiana, e o período retrógrado do planeta oferece-nos a possibilidade de rever todos estes tipos de relacionamentos. Mas “viver no passado” não é certamente a forma correcta de encarar um período retrógrado. Os ensinamentos dos maiores mestres da Humanidade podem-se geralmente resumir a uma meia dúzia de conceitos fundamentais, e um deles é o de viver no presente. Só o presente é real, lembrava Buda; do passado resta apenas a memória, e o futuro é mera antecipação do que ainda não foi realizado.

Como lidar, então, com as tendências retrógradas de Vénus, e com as situações muito concretas de retorno ao passado que este trânsito nos pode apresentar?

Tomemos um exemplo. O retorno, sob as mais diversas formas, de um “amor” do passado pode, se não estivermos centrados no presente, levar-nos a reviver nostalgicamente as emoções associadas a essa pessoa (sejam estas boas ou más), causando até o reacender de uma paixão antiga. A mesma situação, mas desta vez vivida por alguém que está equilibrado no momento presente, poderá resumir-se a uma observação emocionalmente desapegada da relação passada. Será assim possível retirar dela todas as suas lições e compreender o papel real que desempenhou na nossa vida, fortalecendo-nos para o futuro.

Se vivemos centrados e equilibrados no momento presente, nenhuma memória do passado ou antevisão do futuro nos pode destabilizar. Voltar o olhar para o passado resume-se a uma calma contemplação das situações apresentadas, sem a deturpação e a confusão causadas pelo envolvimento emocional excessivo. Como é por vezes extremamente difícil observar de forma objectiva uma situação na qual estamos presentemente envolvidos, a reavaliação do passado pode ser muito útil para sistematizar aprendizagens pessoais, agora sem o peso da emoção e do apego.

Por outro lado, a ideia de fazer uma revisão da vida aterroriza muita gente, particularmente aqueles que sabem, no fundo de si, que têm mudanças a fazer. Mas examinar um relacionamento não implica o seu fim. Tudo aquilo que é importante deve ser visto com olhos novos todos os dias, e não apenas num período retrógrado. Se esta é uma boa altura para resolver pequenas questões pendentes, porque não fazê-lo?

Outra situação que beneficiará certamente de uma reavaliação é a nossa relação connosco mesmos, e tudo o que nela está implicado – amor-próprio, estabelecimento de compromissos com os outros, capacidade ou incapacidade de sacrifício pelos outros, assertividade, necessidade de aprovação exterior, etc. Vénus, a deusa do amor, é apenas uma faceta de Ishtar ou Innana, a poderosa Senhora do Céu e da guerra (esta também chamada de dança de Innana). Despertando este arquétipo podemos aprender a ultrapassar uma falta de auto-estima ancorada em traumas do passado, renegociando relacionamentos que nos tolhem e afirmando-nos como indivíduos de pleno direito aqui e agora.

Ishtar, Moon Oracle, Caroline Smith / John Astrop
Porém, se um período retrógrado incita à revisão e reavaliação, não é por natureza favorável à tomada de acções concretas para alterar o estado das coisas. Especialmente nos domínios da deusa, não convém tomar iniciativas revolucionárias: é melhor esperar até ao início de julho para marcar um casamento ou decidir uma separação, lançar um novo plano de negócios, fazer um investimento financeiro, ou até mudar de cor de cabelo, dizem os astrólogos.

Em resumo, o trânsito retrógrado de Vénus e o eclipse solar daqui resultante terão o poder de nos dirigir o olhar para o passado dos nossos relacionamentos, ou para os nossos relacionamentos do passado. Este olhar, para ser verdadeiramente eficaz, deve ser tão objectivo quanto possível, tendo em conta que as relações que mantemos e valorizamos são o nosso espelho. A luz que iluminará este espelho, principalmente em torno do eclipse (entre 1 e 10 de junho), ajudará a ver distintamente os padrões que sustentamos nas nossas vidas, e a avaliar o quanto estes mesmos padrões ainda nos são úteis.

Lembremo-nos de Innana ou Ishtar, rodeada pelos seus leões, e encaremos com a sua determinação esta viagem aos aspectos mais frágeis de todos os nossos relacionamentos. Sairemos daqui seguramente mais fortes.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Júpiter e o Sol ( e Vénus retrógrado)



Daqui a menos de uma semana, a 15 de maio, Vénus começará o seu movimento retrógrado, e nele prosseguirá até 27 de junho. Mais ou menos a meio deste período retrógrado a deusa desfilará diante do Sol (trânsito de Vénus), um acontecimento relativamente raro e do qual falaremos mais tarde. Por agora, convém saber que um período retrógrado, seja de que planeta for, é sempre adequado para fazer reavaliações das áreas da vida e das estratégias relacionadas com o planeta em questão. Estas fases, durante as quais o relógio das influências planetárias abranda, dão-nos uma margem de manobra para rever planos e, se necessário, inverter rumos.
No caso de Vénus, a reflexão será feita sobre tudo aquilo a que damos valor neste momento, desde bens e empreendimentos materiais a relacionamentos. Não é consequentemente uma altura adequada para iniciar compromissos, amorosos ou de trabalho, nem para fazer mudanças estéticas radicais. Com Vénus a “andar para trás”, alguns programas de natureza venusiana (encontros sociais ou românticos, por exemplo) podem falhar, e é também possível enfrentar atrasos na recepção de dinheiro esperado. Por outro lado, este retrocesso do planeta também pode implicar o retorno de elementos do nosso passado – talvez amigos, ou até amantes – criando situações que nos forçam a resolver assuntos incompletos…
Naturalmente, nada disto prejudicará um relacionamento ou um empreendimento sólido. No entanto, o senso comum aconselha a alguma paciência e prudência durante estas semanas, e Gémeos (onde Vénus estará até Agosto) aconselha que se coloque a ênfase numa boa comunicação entre todas as partes. Quanto à própria Vénus, ela aconselha a que não se desperdice esta oportunidade de enfrentar a verdade quando necessário, embora seja sempre aconselhável fazê-lo com a graça e a suavidade da deusa – e deixando as decisões mais dramáticas para depois do dia 27 de junho.
Mas antes de enfrentar estes dias um pouco mais tensos podemos aproveitar as promessas radiosas do próximo fim-de-semana. O Sol que se anuncia em todo o país vai brilhar em conjunção com Júpiter, o planeta generoso, cumprindo o seu encontro anual. Os dois gigantes benéficos estarão em Touro, aumentando a nossa vitalidade, sociabilidade e optimismo. É uma conjunção muito adequada a um fim-de-semana, e provavelmente teremos vontade de o passar com família ou amigos, ao ar livre, e em clima de descontracção.
No entanto, e dependendo do mapa de cada um, alguns de nós poderão sofrer um efeito menos desejável: esta conjunção incita a ignorar a cautela e a abraçar a expansividade jupiteriana, sugerindo empreitadas grandiosas que podem dar origem a fracassos igualmente grandiosos. Tratando-se de um fim-de-semana, talvez o melhor conselho seja aproveitar o tempo para ser simplesmente feliz, deixando as decisões importantes para os dias seguintes.
Por agora, e porque esta influência começa a fazer-se sentir já hoje, dia 10, trata-se de aproveitar a onda benéfica de Júpiter e do Sol, que não poupará os seus raios.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Superlua (Lua Cheia de 5 de maio)

No próximo fim-de-semana será possível observar a maior e mais próxima Lua Cheia deste ano. Segundo os astrónomos, esta é uma superlua – uma Lua (cheia ou nova) que está muito perto do perigeu, o ponto da sua órbita mais próximo da terra. Embora a coincidência entre uma Lua Cheia ou uma Lua Nova e a aproximação ao perigeu possa acontecer 4 ou 5 vezes por ano, a Lua de 5 e 6 de maio ficará plena exactamente neste ponto (com apenas uma hora de desfasamento), o que faz dela uma notável superlua, iluminado o céu nocturno a apenas 357 mil quilómetros da Terra.
Na prática, quando vista da Terra esta Lua Cheia parecerá maior e mais brilhante (particularmente se avistada no momento do seu nascimento), e causará marés mais extremadas durante alguns dias. Por outro lado, o aumento dos supostos efeitos de uma Lua Cheia não será certamente notável. Embora se especule que a actividade sísmica de baixa intensidade (e apenas essa) pode ser afectada por uma superlua, não é conhecida a coincidência de fenómenos naturais de grande escala com estas fases lunares.
Mais interessante, e provavelmente de efeitos bem mais práticos, é a especial disposição dos astros no momento da Lua Cheia. Esta Lua brilha em Escorpião, formando um triângulo dourado com Marte e Plutão, assistido de perto por Júpiter. Marte continua em Virgem e Plutão em Capricórnio, enquanto o Sol ilumina o Touro, completando os três signos do elemento terra. Com a Lua no aquático signo de Escorpião, podemos esperar que estes dias possuam uma energia muito feminina.
Apesar de se tratar de uma Lua muito favorável, até mesmo uma das mais benéficas do ano, não devemos esquecer que a Lua em Escorpião está relacionada com emoções profundas, com o mergulho nas águas do inconsciente. Escorpião não aprecia, nem conhece, a superficialidade. Uma vez que a Lua Cheia, por si própria, já facilita um clima emocional, por vezes mesmo inconstante, é natural que se sucedam as alterações de humor nestes poucos dias que antecedem o pleno lunar, bem como no fim-de-semana. Na pior das hipóteses, virão à tona as emoções que tendemos a recalcar, e seremos forçados a lidar com os nossos temores e fragilidades. Embora seja mais provável que tais ansiedades se revelem no plano das relações íntimas, trazendo à tona questões ligadas com carências afectivas (ciúmes, solidão, sentimentos de abandono ou falta de amor, etc.), também é possível que se manifestem como medos relacionados com carências materiais.
A Lua, Camoin&Jodorowsky
A boa notícia, evidentemente, é que a única forma de nos libertarmos dos nossos medos é enfrentá-los… e de resto, Escorpião também lida com os processos interiores de cura, quer físicos quer psicológicos. Para isso serve a luz particularmente brilhante desta superlua: iluminando paixões, desejos, medos e sentimentos ocultos, ela proporciona-nos uma notável oportunidade de nos libertarmos deles. A ajudá-la está Plutão retrógrado, favorecendo o abandono e a transformação de tudo aquilo que já não serve a nossa alma, e obrigando-nos a deixar partir velhos padrões e apegos. Em Capricórnio, ele permite-nos refazer as próprias fundações da nossa vida. Plutão estará retrógrado durante muitos meses mais, e em Capricórnio até 2023, mas agora trata-se de aproveitar a sua influência conjugada com a desta Lua.
O trígono entre Marte e Plutão, ambos no elemento terra tal como o Sol, proporcionam uma base estável para esta Lua emocional. Se nos recordarmos disto, poderemos encontrar um ponto de apoio seguro para lidar com os momentos mais emotivos. Conjugada com o apelo prático do Sol em Touro, a Lua pode ajudar-nos a encontrar e expressar a nossa intimidade de forma genuína e com auto-confiança, e a deitar fora tudo o que já não nos serve, em todos os aspectos da vida, mas particularmente na nossa psique. É uma boa altura para fazer um auto-exame, da mesma forma que pomos as contas em dia. Aliás, a Lua Cheia em Escorpião favorece a contabilidade e o tratamento dos impostos, para aqueles que ainda os não apresentaram…
E lembremo-nos que a Lua Cheia de maio é festejada, em quase todos os países budistas, no festival de Vesak (ou Vesākha), a celebração do Aniversário de Buda, quando se recorda o nascimento, mas também a iluminação (simbolizada pela Lua) e a morte de Siddhārtha Gautama. Uma das práticas tradicionais deste dia é a da meditação, e a Lua em Escorpião favorece-a particularmente.

terça-feira, 1 de maio de 2012

À luz das fogueiras do 1 de Maio


Beltane
Neste mundo quase dessacralizado, onde os ritmos da natureza e as suas relações com os mistérios do Espírito estão ocultos por espessas camadas de pragmatismo e racionalidade, não deixa de ser curioso que celebremos o dia 1 de maio como um dos mais importantes feriados civis do ano, ainda que sob a forma de Dia do Trabalhador.
Desde tempos imemoriais, o primeiro dia de maio corresponde ao grande Festival da Primavera do hemisfério norte, celebrado como Walpurgisnacht (noite de Walpurgis, a 30 de abril ou 1 de maio) nos países germânicos ou nórdicos, e como May Day nos países anglo-saxónicos, incluindo os Estados Unidos. As festividades, que remontam ao festival romano em honra da deusa Flora, estão também relacionadas com a celebração do Beltane (ou Beltaine, fogo brilhante) celta. Ocorrem exactamente seis meses antes da noite de Halloween ou das Bruxas, e do dia dos mortos ou de Todos-os-Santos, igualmente cultuados como a face oposta do ano.
Beltane, a festa do fogo, celebra a passagem da primavera para o estio, equivalendo às nossas fogueiras de São João, directamente ligadas ao solstício de verão.
Enquanto nos parece evidente festejar o verão em junho, a verdade é que estes antigos sistemas de contagem do tempo definiam o ano através de duas fases principais, a da luz e a da escuridão, de forma a que os solstícios de verão e inverno correspondiam não à entrada das estações, mas sim ao seu auge. O dia 1 de maio representava a entrada da fase luminosa do ano, e o solstício o seu ponto culminante, o “meio do verão” (Midsummer ou Midsommer). O equinócio de outono marcava o momento de transição da luz para as trevas, e o solstício de inverno a noite mais profunda, logo seguida do lento avanço do dia.
As celebrações do 1 de maio enfatizavam a juventude e a fertilidade, opondo-se às festas da morte (a 1 de novembro) como comemorações da sexualidade e da vida. São conhecidas as danças dos jovens casais, enfeitados com coroas de flores, em torno do fálico pau de maio, erigido sobre uma abertura circular escavada no chão, a coroação do rei e da rainha de maio, a suspensão dos votos matrimoniais e a licenciosidade da noite das fogueiras (proibida pela igreja no século XVI), e uma série de outros rituais de fertilidade, como iluminar os cumes dos montes ou saltar por cima do fogo. Tais rituais evocavam a união dos dois princípios sagrados e universais do Masculino e do Feminino, origem de toda a vida.
A Igreja Católica fez substituir estas festividades pagãs pela celebração de Maria, a quem o mês de maio passou a ser dedicado, e que herdou os atributos da rainha de maio ou do verão (chamada de Maia na Europa do norte, Flora em Roma e Kore, a Donzela, na Grécia). A dedicação de Maio à Virgem mantém, ainda que em ambiente cristianizado, a celebração da juventude e da fertilidade, e a evocação do hierosgamos, ou união sagrada, uma vez que Maria é o autêntico modelo da maternidade, tendo concebido do próprio Deus. Assim se colocam coroas de flores nas suas estátuas um pouco por todo o mundo cristão, de forma a celebrar o primeiro dia do mês de Maria.