terça-feira, 9 de abril de 2013

Carneiro: o fogo juvenil que acende a Primavera


Com o encerrar dos ciclos lunar (a última Lua Nova em Peixes, último signo do Zodíaco) e solar (Sol em Peixes) encerrou-se também um ciclo astrológico, enquanto outro começa em Carneiro. Como vimos antes, e como é evidente, os planetas que no mês passado se agruparam em Peixes vão passando de seguida para Carneiro. Até meados de Abril hão-de chegar a juntar-se nesse signo uns 5 planetas (Urano, que já lá está desde 2011, Marte, Vénus, Sol e Mercúrio), e ainda a Lua Nova de 10 de Abril, também em Carneiro. Portanto, esta é a energia que se segue, e virá justamente com a primavera, o tempo de tudo o que é novo e cheio de energia vital. É a altura ideal para plantar as sementes de novos projectos, de agir, de seguir impulsos e realizar sonhos. 

O sol está em Carneiro até 19 de Abril. As qualidades de Carneiro, agora potenciadas pelo sol, são o entusiasmo, a espontaneidade, a impulsividade, a capacidade de iniciativa e o pioneirismo. Os aspectos mais complexos desta influência têm a ver, claro, com os impulsos descontrolados, a impaciência, a incapacidade de recuar e ver “the big picture”, a incapacidade de fazer e seguir planos ordenados, a falta de sensibilidade para os detalhes e para com os outros, o excessivo “cortar a direito”, etc. Carneiro, como primeiro signo do Zodíaco, e anunciador de novos começos, tem uma natureza tendencialmente infantil: as suas motivações são simples, a sua forma de agir é directa e imediata, os seus desejos são imperativos, a sua capacidade de antever e planear o futuro, bem como a sua paciência, são diminutas, a sua vitalidade e potencial de crescimento é grande, a sua disposição é consideravelmente ingénua e franca, e a sua consciência não conhece a culpa ou o remorso. 

Vénus está em Carneiro até 15 de Abril, e portanto todas as actividades “venusianas” são coloridas pela natureza deste signo. Vénus rege todos os relacionamentos com o mundo exterior aos quais atribuímos um valor palpável, seja físico ou material. Isto significa, para além das relações humanas, a nossa relação com o dinheiro e os valores materiais, a nossa relação com a aparência das coisas (aquilo que desejamos pelo aspecto estético) e a nossa relação com tudo o que nos traz prazer. Em Carneiro, todos estes aspectos são vividos de forma directa e espontânea. O prazer, o amor, a beleza e os bens materiais são procurados com particular impetuosidade. Durante algum tempo, o nosso lema de vida pode tender para algo como “aproveita o momento”, “a vida é curta”, “é agora ou nunca”. Se tivermos em conta a natureza directa, relativamente auto-centrada e impulsiva de Carneiro, ser-nos-á mais fácil recuar um pouco quando for necessário. No que respeita às relações inter-pessoais, devemos ter em atenção a sensibilidade dos outros; no que respeita aos prazeres materiais, podemos tentar prevenir excessos (comer ou beber demais, por exemplo); no que respeita ao enamoramento rápido pelo que consideramos “belo”, ter em conta que a maior parte da beleza do mundo é efémera; e no que respeita à conquista de dinheiro ou bens materiais, meditar sobre a ilusão que representam… de resto, é aproveitar a energia ígnea do signo, que anuncia o despertar da natureza e da vitalidade no nosso corpo e na nossa psique. 

Marte está em Carneiro até 20 de Abril, e Marte é precisamente o regente deste signo. Portanto, Carneiro não só é iluminado pelo sol até esta data, como está reforçado pela presença do seu regente! Mais uma vez, todas as características de Carneiro estão potenciadas, e até duplamente potenciadas. Porém, Marte tem essencialmente uma natureza bélica e competitiva, que reforça sobretudo este aspecto de Carneiro. As palavras-chave desta conjuntura são, para além das já referidas: acção, conquista, triunfo, confiança, coragem, atrevimento, ousadia, competitividade, rapidez, impaciência, arrogância, e até possivelmente egoísmo. 

Ainda por cima Urano está também em Carneiro desde 2011 (e aqui ficará até 2019), tornando-nos pouco pacientes para com todo o tipo de restrições. Embora esta conjuntura afecte sobretudo a sociedade como um todo, a tendência geral é para nos livrarmos de tudo o que nos tolhe, prende e limita, inclusivamente as nossas próprias limitações mentais e emocionais. O “problema” aqui reside na ligação entre o excesso de fogosidade, a impetuosidade infantil e o carácter irreflectido de Carneiro, e a natureza errática e imprevisível de Urano, que pode agir com a rapidez e a força brutal de um relâmpago. Basicamente, é como chegar fogo ao rastilho de uma bomba, e das grandes. Corremos o risco de uma grande e caótica explosão, sem alvo definido, daquelas que fazem muitos danos colaterais. Não resta muita paciência para negociações, nem frieza para avaliar uma dada situação, nem qualquer capacidade de ouvir o outro ou de contemporizar; não há inocentes nem tempo a perder. Este Urano pode virar o nosso mundo do avesso, literalmente. 

A partir de dia 13, Mercúrio sai de Peixes e entra… claro, em Carneiro. É bom que nos habituemos à energia de Carneiro, porque está a ser reforçada por todos os lados. A comunicação pisciana, gentil e intuitiva, dá lugar às ideias originais e inovadoras típicas de Carneiro, sempre apresentadas com muita assertividade. Tendemos a falar com os outros de forma directa, sem rodeios, sem cuidados e sem muitos detalhes. Tomamos decisões rápidas, por vezes até irreflectidas. É fácil ter discussões, desde proveitosas trocas de ideias até disputas violentas. Nesta situação ninguém gosta de perder, e a capacidade de argumentação está no seu máximo. Por outro lado, é uma altura propícia a ter “iluminações” repentinas, e muita criatividade. 

Por fim, a Lua Cheia de dia 25, em Escorpião, traz um eclipse solar em conjunção com Saturno e em oposição a Marte e ao Sol (já em Touro), cuja energia pode durar cerca de 6 meses. Como existe tensão entre a energia de Escorpião, onde está a lua, e a de Touro, onde estão o sol (Escorpião e Touro são signos opostos), este eclipse pode representar a libertação de tensões, criando desconforto e até dor, mas também oferecendo a possibilidade de um novo começo. Uma Lua Cheia representa sempre uma época de culminação, e a promessa (ou o potencial) de realização de quanto foi começado na Lua Nova. Mas a Lua Cheia em Escorpião é uma lua emotiva, relacionada com sensações profundas e com o mergulho nas águas do inconsciente. Escorpião não aprecia, nem conhece, a superficialidade. Uma vez que a Lua Cheia, por si própria, já facilita um clima emocional, por vezes mesmo inconstante, é natural que se sucedam as alterações de humor nos dias que antecedem o pleno lunar. Na pior das hipóteses, virão à tona as emoções que tendemos a recalcar, e seremos forçados a lidar com os nossos temores e fragilidades, particularmente no plano das relações íntimas, onde podem surgir questões ligadas com carências afectivas (ciúmes, solidão, sentimentos de abandono ou falta de amor, etc.). Mas também é possível que se manifestem medos relacionados com carências materiais. 

A Lua Cheia traz à superfície e exibe diante da consciência tudo o que estava oculto. Logo, uma das razões do nosso mal-estar poderá ser o facto de estarmos a lidar com ideias, fantasias e especialmente emoções inconscientes ou reprimidas, que lutam para serem reconhecidas e libertadas. A única forma de nos libertarmos dos nossos medos é enfrentá-los, e aqui voltamos a Escorpião, que também lida com os processos interiores de cura, quer físicos quer psicológicos. Conjugada com o apelo prático do Sol em Touro, a Lua pode ajudar-nos a encontrar e expressar a nossa intimidade de forma genuína e com auto-confiança, e a deitar fora tudo o que já não nos serve, em todos os aspectos da vida, mas particularmente na nossa psique. É uma boa altura para fazer um auto-exame, da mesma forma que pomos as contas em dia. Aliás, a Lua Cheia em Escorpião favorece a contabilidade e o tratamento dos impostos, agora que é altura de apresentar o IRS. 

Vénus e Marte, Sandro Botticelli,1480
Mais um factor a ter em conta: esta Lua Nova em Carneiro estará em conjunção com Vénus e Marte, os impulsos contraditórios (mas conjugáveis, como nos diz o relato mitológico dos amores entre ambos) do Amor e da Guerra. A questão é que Marte está em casa, como já vimos, mas Vénus sente-se aí como uma “convidada” pouco à vontade. A relação entre ambos ressente-se de uma certa apatia de Vénus, que em Carneiro não se sente totalmente segura para corresponder aos avanços de Marte. Esta atmosfera reflecte a possível falta de sensibilidade masculina/juvenil de Carneiro, quando avança com demasiada impulsividade e falta de subtileza diante do “outro”, aqui representado pelo aspecto feminino/venusiano. Fica evidente a necessidade de prestar atenção a conjunturas deste género na nossa vida: podemos aproveitar estes dias em torno da Lua Cheia para tentar identificar em todos os encontros que temos, quer com outras pessoas quer com situações que nos vão surgindo, este possível excesso de energia fogosa, por um lado, e a energia que se lhe opõe, por outro. Talvez consigamos perceber que ao avançamos de forma mais impetuosa a reacção do “outro” é o retraimento, e também que, quanto mais longe da nossa “zona de conforto” estamos, mais nos retraímos. 

Noutro contexto, uma sugestão prática para estes dias está relacionada com a entrada da primavera, que possivelmente sentiremos com mais força a partir da Lua Nova de dia 10, marcada por toda a ênfase posta em Carneiro e na sua energia solar e pioneira. É a altura ideal para as famosas “limpezas da primavera”, quer dentro quer fora de nós. É tempo de arrumar, limpar, libertar os espaços de tudo quanto guardamos em excesso, e fertilizar tanto a terra como o nosso corpo e a nossa criatividade. Este processo de limpeza é reforçado pela Lua Nova de dia 25, que, como já referimos, também ajuda a pôr as contas em ordem!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Sete luzes sobre as águas de Peixes






Há muito que estamos como o Coelho Branco da Alice no País das Maravilhas, sem tempo para nada. Quem segue o blogue já reparou, e só podemos pedir desculpas. Continuamos sem tempo hoje também, mas com muita vontade de assinalar este dia muito especial (11 de Março), que anuncia a Primavera próxima.

Um stellium é um conjunto de planetas (três ou mais) que se agrupam num signo ou casa por um determinado período, amplificando a energia desse signo ou casa enquanto lá se encontram. O signo de Peixes tem sido, no último mês, o anfitrião deste encontro, e a casa está praticamente com lotação esgotada. Primeiro recebeu Marte, Chiron e Neptuno, depois chegou Mercúrio, mais tarde Vénus e o próprio Sol, e hoje a festa fica completa com a chegada da Lua. Até amanhã, quando a Lua terminar a sua (sempre) breve visita, estes sete planetas fazem da modesta habitação de Peixes a mais brilhante, ruidosa e animada do Zodíaco.

Contra-relógio, não nos é possível fazer uma análise mais profunda deste encontro cuja magia fica bem simbolizada pelo número sete, mas tentaremos realçar alguns pontos fundamentais. Sabemos quais são, genericamente, as características de Peixes: sensibilidade, vulnerabilidade física, psíquica e emocional, empatia, tolerância, ausência de limites rígidos entre “eu” e o “outro” (seja este outra pessoa, ou qualquer agente exterior), compaixão, adaptabilidade, imaginação, visão de conjunto, capacidade de entrega, serviço, amor universal, mergulho nas profundezas do inconsciente, capacidade de transformação e regeneração, misticismo e fé.

Também não é difícil compreender como estas qualidades se podem transformar em obstáculos, caso sejam vividas de forma desequilibrada. Hiper-sensibilidade e demasiada vulnerabilidade levam alguns peixes ao caminho da eterna vitimização, inutilizando a mais-valia que representariam caso fossem bem utilizados e dirigidos. Excessiva tolerância e ausência de limites conduzem a um caos do qual dificilmente sai qualquer criação, porque a criação exige alguma capacidade de dirigir a energia, dando-lhe uma forma definida. A compaixão sem objectividade faz Peixes perder-se num mar de emoções, fazendo-o sofrer em vão e impedindo-o de ajudar ao outro de forma eficaz. A lista podia continuar: excessiva dependência emocional, escapismo e alienação em relação ao mundo e às suas regras, falta de sentido prático, falta de clareza mental, auto-indulgência, crendice e irracionalidade.

Estes são, portanto, os temas destacados pelas sete luminárias que hoje abrilhantam a casa de Peixes. Estamos mais sensíveis a influências exteriores, mais sonhadores, mais empáticos e tolerantes, mais disponíveis, mais abertos ao inconsciente e mais espirituais, mas talvez também excessivamente vulneráveis, menos organizados, menos práticos e menos capazes de definir limites. Assim conhecemos as águas que navegamos.

Vejamos o papel da Lua, sétimo e fundamental elemento deste stellium. Como Lua Nova, ela rege os projectos em potência, aqueles que florescerão com a Lua Cheia (e a próxima é a Lua Cheia da Primavera, tempo perfeito para fazer brotar novidades). Peixes, o sonhador do Zodíaco, encontra aqui um momento muito propício para criar na sua imaginação aquilo que Carneiro, a partir de dia 20, ajudará a concretizar, auxiliado pela energia primaveril. Para já, podemos contar com a energia de Marte, um dos ilustres participantes nesta conjugação planetária, para vitalizar as sementes que hoje lançamos à terra.

Esta Lua Nova em Peixes propõe-nos também viver de acordo com novas leis, que nem sempre são concordantes com as leis da sociedade. Neste período, muitos de nós estão certamente a ser confrontados com a necessidade de respeitar regras pessoais e seguir por novos caminhos, que estejam mais de acordo com a sua verdade interior. Apesar do impulso recebido por parte de Marte, Peixes não tem por hábito a revolta armada, por isso é mais provável que este processo assuma a forma de uma resistência passiva às imposições exteriores, e de uma subtil mudança de orientação na forma de viver e de nos relacionarmos com o mundo e os outros.

De seguida, é-nos proposto o tema da cura. Este é um bom período para iniciar qualquer processo de cura ou desintoxicação, desde uma dieta até uma terapia psicológica. Mas é sobretudo útil no que respeita à cura interior, à profunda renovação do Ser, ao mergulho nas profundezas do inconsciente para resgatar a criança ferida que se encontra em todos nós. Chíron está aí para ajudar neste processo terapêutico, e a forma pisciana de o empreender é através da rendição e da confiança. No seu nível mais elevado, Peixes sabe que o Universo o sustentará quando se deixar cair no escuro oceano da psique – e a Lua Nova estará lá para o acompanhar.

Limpos, poderemos então servir. O Serviço, na sua acepção mais elevada, é a derradeira proposta de Peixes, e parte da compreensão de que tudo é Um, não existindo fronteiras reais entre nós e os restantes seres. Em Peixes, o último signo do Zodíaco, o Homem completa o seu percurso de aprendizagem, e pode tornar-se um guia, um consolador e um curador para o seu próximo. É-lhe, porém, exigido que não tente sobrepor a sua vontade à vontade cósmica, tomando as rédeas da situação e impondo o seu desejo de prestar auxílio; neste ponto é necessária a maior das humildades, que implica aceitar que nem sempre é possível resolver uma situação ou ajudar o outro.

Por fim, este é o tempo de nos desapegarmos de tudo aquilo que já não nos serve, desde as nossas próprias crenças – por vezes, mesmo aquelas sobre as quais erguemos a nossa vida – até às pessoas ou situações que não mais pertencem ao nosso presente. Aqui estão incluídos muitos objectos materiais inúteis que acumulamos em casa, o peso que acumulamos no corpo, a dor que acumulamos no coração ou os medos que acumulamos na psique. Deixemo-los partir com a água de Peixes, sob a influência purificadora da Lua Nova, mesmo que nos pareça demasiado difícil. Mais difícil será viver a arrastar tais pesos.

Resta dizer que não vale a pena pensar que nos podemos esconder da Verdade, quando sete luzes brilham sobre a nossa cabeça. Se queremos viver de acordo com os ritmos cósmicos, este é o momento de a reconhecer e aceitar a Verdade. E a Verdade |nos| libertará.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A vida é uma roda


Eu tinha um texto começado em Outubro que era assim: 

"Depois de um título com tanta categoria até bloqueei. A vida também pode ser um Carro, um Sol, uma Estrela, um Julgamento, uma prisão, um prado, um ciclo de oitenta anos a fazer bolinhos de canela com raspa de limão, um ciclo de oitenta anos a olhar para o horizonte, um ciclo de oitenta anos a colocar botox preventivo na testa desde os quarenta, que é o destino que eu tenho pedido a Nosso Senhor e que me disponho a trocar pelo actual; com as continhas para pagar, o carrinho utilitário, as viagens que faço de esfregona na mão para reduzir as despesas da minha guesthouse, que por acaso também é a minha casa. Mas este não é um texto neo-realista, é um texto de tarot, sobre a carta Roda da Fortuna. 

Não percebo grande coisa desta carta, mas resolvi escrever sobre ela porque o seu número, 10, remete para o mês de Outubro (eu disse que comecei a escrever isto em Outubro). E porque o seu significado incontestável é mudança e eu associo o Outono a mudanças: as folhas caem das árvores, as andorinhas vão-se embora para África, cheira a castanhas assadas ao pé da estação quando eu ainda estou a apanhar o comboio para a praia (um dia gostava de falar acerca disto com o Presidente da Câmara, ou com quem decide o dia em que acabam os gelados e começam as castanhas)". 

Curiosamente, e muito a propósito, eu também associo o início do ano a mudanças, desde há cerca de dez minutos e depois de reflectir sobre o assunto. Isto porque se bebe champanhe e se escreve listas de objectivos. Há até quem as enterre na terra, para que os objectivos floresçam como as flores, e há quem as enterre no vaso da vizinha, à falta de melhor. Neste momento muita gente sabe que em 2013 eu pretendo ser criativa, ir à praia e ter gémeos, mas como a lista não estava assinada, também não sofro muito com isso. Além de que o vaso não era da minha vizinha, mas da vizinha da Patrícia, a que rosna quando uma pessoa se engana na campainha. 

"Está então esclarecido que eu não sou uma grande especialista na carta, mas se deixo passar mais uns dias perco a oportunidade de escrever um texto cheio de pertinência – e custa-me que pensem que este contributo pessoal para uma aprendizagem do tarot não tem lógica nenhuma (ahahah). No entanto, a verdadeira razão porque escolhi escrever sobre esta carta prende-se com o facto dela surgir tantas vezes nas minhas leituras. Neste momento, supera largamente a outra, a do miúdo a fazer yoga."

Mas não é a vida assim mesmo? Precisamos de parar para prosseguir. Precisamos de nos preparar para a caminhada. Eu, pessoalmente, não sei decidir o que é mais importante. Acho que é tudo. Aliás, quando eu digo parar não quero dizer que as pessoas fiquem estanques e coladas ao chão. Há tanto que se faz enquanto não se faz nada. Eu fartei-me de crescer. Sendo a minha vida de um desinteresse absoluto, termino com a seguinte conclusão: ao sair a Roda da Fortuna preparem-se para grandes e boas mudanças. Esta carta costuma anunciar o novo. Fosse eu uma taróloga vulgar e era bem capaz de dizer que não há mal que sempre dure.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

21 de Dezembro de 2012 - O Fim do Mundo e o Solstício de Inverno


 I 
O “Fim do Mundo” 

Tanto enquanto Humanidade como enquanto indivíduos, todos tememos periodicamente um fim do mundo, sob qualquer uma das suas formas. A aproximação do ano Mil lançou a Europa no temor colectivo do aniquilamento, inspirando inúmeros actos de contrição e muitas conversões súbitas e inflamadas. Antes e depois deste ano memorável, foram incontáveis as datas apontadas para o fim do mundo, baseadas na redondez dos números – milénios e ciclos de 500 anos são os preferidos –, nas efemérides de eventos extraordinários, nas previsões de vários auto-denominados profetas, ou em episódios tão curiosos como o da galinha inglesa que punha ovos com mensagens apocalípticas.

As sociedades ocidentais, progressivamente secularizadas e imbuídas do espírito racionalista, foram deixando de acreditar nestas previsões, mas não as conseguiram dispensar por completo: apesar de tudo, o mito e a magia ainda nos habitam. Sabemos e sentimos, em todos os níveis do nosso Ser, que a vida é feita de ciclos, desde a fugaz duração de algumas células do corpo ou da vida de uma borboleta, até aos grandes ciclos cósmicos que hão-de determinar, ainda que num futuro longínquo, o total arrefecimento e extinção do universo. Entre o pouco que sabemos, sabemos isto: tudo aquilo que tem um começo terá um fim.

Entretanto, o fim do mundo não aconteceu no ano Mil, nem no milénio seguinte, nem acontecerá agora, quando viramos a última “página” do já famoso calendário Maia, como não acontecerá nunca apenas porque um calendário chegou ao fim. Para minorar algumas decepções, e para manter a chama do encantamento acesa, deixamo-nos então embalar pelo conceito de “fim de uma era” e pela possibilidade renovada do despertar de um “novo mundo” nas nossas consciências, num movimento confirmado pela suposta subida de vibração da Terra (conceito que faz muito pouco sentido, e é de resto inverificável), por um misterioso alinhamento planetário (que não existe, sendo que os alinhamentos parciais são frequentes), e por muitos outros “dados científicos” bastante criativos mas muito pouco realistas.

A verdade é que vivemos num mundo continuamente nascido, morto e recriado, onde o futuro se faz passado a cada instante e só o presente é real, como se o real fosse da espessura de uma sombra suspensa no vazio e tivesse a duração de uma fagulha. Cada momento é uma oportunidade para nos recriarmos também a nós, ampliando a nossa consciência e mudando o (nosso) universo. A astrologia ensina-nos que há ocasiões mais propícias a este movimento do que outras, e também que algumas conjunturas nos afectam enquanto indivíduos, enquanto outros afectam toda a Humanidade e até o sistema solar que habitamos. A fé mostra-nos que o socorro dos Céus está sempre ao nosso alcance. A simples observação da natureza torna evidente a harmonia e o profundo sentido da Criação. Neste cosmos ordenado e harmónico, pulsando em ciclos regulares e regido por leis que desconhecemos na sua maior parte, mas cuja perfeição conseguimos por vezes adivinhar, está tudo aquilo de que necessitamos para crescer em consciência e fazer com que o brilho dessa consciência ilumine tudo o que nos rodeia. Em vez de esperar por um dia especial ou por uma conjunção celeste peculiar, melhor seria se aproveitássemos em cada segundo o infinito poder e a excepcional graça do momento presente.

II 
O Solstício de Inverno 

No mesmo dia em que alguns esperam um cataclismo universal, outros uma “ascenção vibracional” da Humanidade, e a maior parte espera apenas o momento certo para se rir um pouco, celebra-se mais um solstício de Inverno. Este ano, o momento solsticial ocorre precisamente a 21 de Dezembro, quando os nossos calendários marcam a entrada da nova estação. Às 11.11h, e durante alguns segundos, o Sol parecerá imobilizar-se nos céus antes de continuar o seu movimento; este será o dia mais curto do ano, e a partir daqui os dias serão cada vez mais longos, até ao solstício de Verão.

A energia invernal é yin, fria, escura, maternal, passiva, vagarosa e dirigida para o interior, e está bem evidente nos dias curtos, húmidos e frescos. O Inverno é também sinónimo de uma natureza mais introspectiva e prudente, e simboliza a idade avançada, quando os ritmos biológicos e as ambições mundanas se moderam. É uma época adequada ao repouso, à calma, à leitura, à vida doméstica e contemplativa. Estaremos a funcionar de acordo com a energia da estação se reduzirmos o nosso ritmo de vida e as horas de trabalho e nos dedicarmos ao lar, à família e aos amigos íntimos, mantendo as casas aquecidas e confortáveis, comendo alimentos mais quentes e nutritivos e indo para a cama mais cedo. O solstício de Inverno deve ser celebrado como um momento de serenidade, interioridade, aceitação, desapego e atenção aos outros.

Porém, o excesso de frio causa inércia, apatia e falta de clareza mental, sendo necessário manter o organismo e os ritmos da vida em equilíbrio. Devemos conjugar a tendência para acordar mais tarde e deitar mais cedo, acompanhando as reduzidas horas de luz, com uma maior actividade durante as horas mais quentes do meio do dia. Para contrabalançar o frio e a humidade na natureza e nos nossos corpos devemos atiçar algum fogo, seja aquecendo as casas, comendo alimentos quentes e bem cozinhados ou vestindo mais roupa. A prática de actividades físicas energéticas é menos eficaz nesta época, enquanto a meditação, a contemplação e o estudo são favorecidos.

Por fim, lembremo-nos que a luz desponta no momento mais escuro da noite, e que a morte invernal não é senão uma suspensão aparente e temporária da vida. É este o verdadeiro significado do Natal, de que falaremos noutro texto, e é esta a promessa anunciada pelo solstício de Inverno. Que esta luz ilumine o nosso desejo legítimo de ver renovado, em cada manhã, o mundo que habitamos. Afinal, amanhã, em vez de ter terminado, o mundo estará um pouco mais iluminado, e em breve despontarão as primeiras folhas da Primavera nas árvores agora despidas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Eclipse solar em Escorpião



Para ser grande, sê inteiro: nada
          Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
          No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
          Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis 

A Austrália, e através dela todo o mundo, viveu nas primeiras horas de hoje, dia 14 de Novembro, um eclipse solar total. O eclipse solar potencia sempre uma tendência para uma viragem interior, obscurecendo a luz diurna, que revela as aparências mas esconde as essências, e fortalecendo a penumbra nocturna, que permite a viagem inversa. Não é verdade que a luz do sol revela o mundo, mas vela o céu, enquanto a noite cobre o mundo mas descobre as estrelas? Cada eclipse solar dá-nos justamente a oportunidade de ver, em pleno dia – ou seja, quando a nossa consciência está desperta – o que está habitualmente oculto.

E se um eclipse solar já é, em si próprio, um portal entre o consciente e o inconsciente, imagine-se o poder que terá quando este portal se abre no signo de Escorpião, aquele que habita as águas profundas do inconsciente, regido pelo próprio Plutão, senhor dos mundos subterrâneos e dos poderosos processos ocultos da vida e da morte.

Plutão é muitas vezes temido pela sua associação com a morte e a destruição, mesmo quando sabemos que rege igualmente os processos de regeneração. Naturalmente, todo o ser vivo teme, acima de tudo, a aniquilação; mas aquilo que os homens temem em Plutão é pelo menos tão assustador, se não mais, do que a morte física: é a morte do Ego. Nenhuma terapia ou livro de auto-ajuda nos pode preparar para a realidade desta forma de aniquilação daquilo a que estamos habituados a reconhecer como a nossa identidade, a nossa persona, a soma de tudo o que somos. A promessa de um eventual renascimento não é suficiente para acalmar o pavor atávico da perda de si próprio, da cedência de controlo, da queda livre no desconhecido. Como o reflexo instintivo e involuntário que leva o recém-nascido a tentar agarrar-se a algo logo que pressente a possibilidade de uma queda desamparada, assim reagimos nós diante da proposta de Plutão.

Mas o caminho que Plutão indica é na verdade o único que conduz ao nosso íntimo, ao mais profundo de nós mesmos. Se o pudéssemos recusar, nunca encontraríamos o âmago do nosso ser, o lugar onde nasce e se enraíza a nossa essência humana, e o ponto de contacto com a nossa essência divina. Porém, embora não possamos recusar os processos plutonianos à medida que estes surgem nas distintas áreas da nossa vida, podemos sempre escolher vivê-los sem consciência e sem colaboração – o que, sendo compreensível do ponto de vista humano, é, a todos os níveis, uma pena.

O eclipse solar em Escorpião é, portanto, uma luz que se fecha para o mundo e se abre para dentro, convidando a uma viagem interior iluminada pelo sol da consciência, que não costuma brilhar nessas frias paragens. O único conselho ajuizado será, pois, o de aproveitarmos esta oportunidade para tentar mergulhar nos domínios profundos do inconsciente à procura dos grandes temas escorpiónicos da vida psíquica, da sexualidade e das reservas de energia vital, considerados na sua dimensão oculta, irracional, e tantas vezes recalcada – a nossa sombra.

Esta “sombra”, como a sombra fugidia de Peter Pan, deve ser conquistada e reclamada pela consciência, se queremos ser inteiros. Nela estão armazenadas as nossas reservas energéticas mais profundas, esse negro petróleo gerado a partir das experiências mais antigas que fossilizaram na nossa psique sob a acção transmutadora das “infernais” pressões plutónicas. Tal como na analogia alquímica, que procura o ouro luminoso a partir da purificação da poderosa matéria negra arrancada ao centro da terra, trata-se de trazer à luz da consciência o nosso repositório de emoções reprimidas, medos, pulsões primitivas, desejos recalcados e negações. Iluminadas, as trevas deixam de existir, e revelam-se na sua derradeira verdade: como nada. A consciência expandida passa a ocupar todo o espaço dentro de nós, abrangendo agora a plenitude do Ser integral.  

Este processo de integração e completude, esta vitória sobre a dualidade, só podem ser entendidas como o limite, mais virtual do que real, de um processo cujo fim está fora do tempo. No entanto, podemos vivenciar “pequenos” processos de integração do Ser à medida que lidamos com as influências de Plutão e nos aventuramos corajosamente nos seus reinos sombrios, com o auxílio dos clarões de luz que o Universo, como uma graça, acende diante de nós – como este eclipse tão bem testemunha. 

Morre antes da tua morte, diziam os sábios sufis. De cada pequena morte, de cada rendição, de cada mergulho no mar profundo do inconsciente resultará um ser renovado. Assim é no domínio plutónico da sexualidade, onde é bem conhecida a metáfora da “pequena morte”, que simboliza a entrega total, única via para a transmutação do sexo “normal” em acto divino, fusão cósmica, ultrapassagem da dualidade física. Assim é no domínio plutónico dos reservatórios de poder, como os recursos materiais, onde só a total confiança permite conhecer a abundância dos lírios do campo, que não trabalham nem fiam, e porém nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles (Mt. 6:2).

Este é, pois, o momento certo para nos abrirmos à intuição, para darmos voz à nossa voz interior. Para retirarmos, pelo menos por algum tempo, o nosso foco do mundo e o voltarmos para dentro. Para desligar a televisão, fechar o jornal e meditar um pouco. Para fazer silêncio. Para deixar falar o corpo e, através dele, o inconsciente. Para deixar fluir a vibrante energia da sexualidade, que é fonte de vida sob todas as suas formas. Para alargar um pouco mais os limites do nosso ser, aceitando um pouco mais da nossa natureza sexual e dos desejos que habitualmente recalcamos. Para acreditar na abundância, energética e material, que o Universo oferece àqueles que não se auto-limitam. Para nos predispormos ao encontro connosco mesmos, e ao resgate da nossa totalidade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Lua nova em Balança - mais uma oportunidade


Há cerca de 10 dias atrás, a 5 de outubro, Saturno deixou o signo de Balança, e o foco das suas lições de vida passou para os temas regidos por Escorpião. Durante dois anos tivemos oportunidade de trabalhar a energia de Balança sob um ponto de vista implacavelmente realista, e cada um terá feito as suas aprendizagens pessoais no domínio dos relacionamentos e das parcerias, com resultados que se vão revelando ao longo do tempo.

Mas agora, e durante os próximos 28 dias, podemos revisitar estes temas, acompanhando a Lua nova que desperta na casa de Balança. Se as lições dos dois últimos anos foram aprendidas (ainda que mais ou menos inconscientemente), teremos uma boa oportunidade para “começar de novo”. Já sabemos que a Lua nova e os dias imediatos – o primeiro instante, ou parto, de um ciclo lunar – são o momento perfeito para lançar novas sementes à terra; qualquer iniciativa tem nestes dias um potencial de sucesso acrescido, seja ela voltada para o início de um projecto absolutamente novo, ou para a renovação e regeneração de algo enfraquecido, viciado ou desvirtuado. A energia de uma Lua nova pode ser canalizada para uma verdadeira transformação da nossa consciência e da nossa vida.

Em Balança, esta Lua inaugura um ciclo dedicado aos relacionamentos que mantemos, e sobretudo (mas não só) aos relacionamentos amorosos. Dá-nos mais uma hipótese de olhar, com olhos limpos, para este par formado por “eu o e outro”. Uma das qualidades de Balança é a capacidade de negociação e de harmonização dos opostos, que podemos ajudar a trazer conscientemente para as nossas relações.

Ao mesmo tempo, Vénus – regente de Balança – está em Virgem, a Donzela arquetípica, aquela que não conhece senhor e é dona de si própria. Mas a peça representada pela Lua em Balança e Vénus em Virgem é, mais do que uma história no feminino, uma narrativa da alma humana. Em cada um de nós, homem ou mulher, desperta agora esta tranquila independência da alma (Vénus em Virgem) que nos permite saber quem somos, aceitá-lo, e relacionarmo-nos com os demais a partir daí. Se Balança nos ensina a ceder um pouco para ir ao encontro do outro, esta posição de Vénus ensina-nos a não ceder tudo, permitindo-nos ver com clareza onde é que nos situamos perante nós, os outros e a vida. Balança mostra-nos até que ponto o outro é o nosso espelho (e aqui vale o diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és); Vénus em Virgem mostra-nos que, enquanto estivermos sujeitos às leis deste mundo, o outro é uma realidade separada e autónoma. As duas aprendizagens são verdadeiras, cada uma ao seu modo, e fundamentais para nos sabermos relacionar. Entre uma e outra energia, podemos aproveitar estes dias para nos reconhecermos como parceiros de direito próprio diante do outro, e vice-versa.

Este é também o tempo certo para corrigir desequilíbrios, incluindo os desequilíbrios dentro de nós mesmos (por exemplo, entre as nossas atitudes conscientes e as nossas pulsões inconscientes), ou aqueles tão exteriores como o desequilíbrio cósmico entre o masculino e o feminino. Nos relacionamentos, trata-se de equilibrar as nossas necessidades com a do parceiro, criando uniões mais harmoniosas e verdadeiras, mas também (e sobretudo) mais amorosas.

Uma possibilidade trazida por esta Lua é a do encontro, em nós mesmos, da polaridade oposta – o arquétipo masculino para uma mulher, o feminino para um homem – exigindo reconhecimento e integração. Tal encontro, geralmente despoletado por alguém ou por um acontecimento exterior, pode atiçar um enamoramento ou uma paixão. A paixão, que de certa maneira se opõe à forma mais elevada da energia amorosa de Vénus/Balança, conduz-nos, encadeados e ébrios, para dentro de nós mesmos, em direcção às projecções inconscientes do Ego: a pessoa que nos desperta o coração nada mais é que um catalisador do encantamento que sentimos diante do nosso próprio reflexo, adivinhado num ser exterior. Esta é uma versão bem conhecida do “casamento alquímico”, também simbolizado pela Lua nova, ou conjunção entre a Lua e o Sol.

Porém, trata-se aqui sobretudo de um movimento de unificação interior, que não deve ser confundido com uma relação amorosa livre e consciente. O amor, ao contrário da paixão, mostra-nos o outro em todo o esplendor da sua verdade, da sua unicidade e da sua infinita complexidade. A Lua nova em Balança vem também activar a capacidade de ver o outro por dentro, de o reconhecer na sua essência, de o encontrar em todos os sentidos, e esta é a oportunidade que não devemos realmente perder.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Saturno em Balança: nem sempre podemos ter aquilo que queremos




You can't always get what you want
But if you try sometimes
You just might find you get what you need!
 (The Rolling Stones)

Saturno esteve em Balança até ao passado dia 5 de outubro, quando entrou em Escorpião. Balança é o sétimo signo do zodíaco, e inaugura a segunda metade deste, que num mapa todo alinhado (com Carneiro na casa 1, e por aí adiante) corresponde aos seis signos situados acima da linha do horizonte. Os primeiros signos do zodíaco (Carneiro, Touro, Gémeos, Caranguejo, Leão e Virgem) estão essencialmente relacionados com o desenvolvimento e a afirmação da persona ou do ego, e os últimos seis caracterizam-se por uma progressiva abertura ao outro, ao mundo e aos valores universais. A transição para Balança simboliza portanto um determinado grau de amadurecimento do Eu, que deixa as fases juvenis (Carneiro, Touro e Gémeos) e da primeira idade adulta (Caranguejo, Leão e Virgem)

Em Balança estamos no início da viragem para fora, colocando a ênfase nos relacionamentos interpessoais e na necessidade de estabelecer parcerias de qualquer tipo – das quais a relação de casal, única que pode funcionar a todos os níveis do ser, representa o modelo mais completo. Balança tem a ver com o tema da partilha energética entre duas polaridades, e o seu objectivo é o equilíbrio e a harmonização das duas energias presentes. A fórmula para alcançar este equilíbrio é a equidade, ou a capacidade de fazer escolhas justas não apenas para um, como sucedia sob o domínio do ego, mas para os dois lados de cada questão.

Quanto a Saturno, este pode ser visto como um professor severo, exigente e disciplinador, mas justo. Saturno domina a rebeldia e castiga a inconstância e a preguiça, enquanto recompensa o trabalho sério, a persistência e a responsabilidade pessoal. Oferece nas suas aulas um ambiente estruturado (que para muitos será considerado limitativo), regras rígidas e uma autoridade inquestionável. As suas lições são longas e difíceis, mas quem resistir pode contar com um prémio – e nada é tão gratificante como um prémio concedido por Saturno. Conhecem a sensação de receber um elogio ou uma boa nota do professor mais austero e rigoroso da escola?

Com Saturno em Balança, o nosso rigoroso professor veio desafiar-nos a prestar uma séria atenção aos relacionamentos e parcerias, essa delicada dança (que é por vezes luta) entre o Eu e o Outro. E Saturno não faz concessões: aquilo que pede aos seus alunos é um exame implacável dos seus relacionamentos, do equilíbrio entre dar e receber, daquilo que pedem e daquilo que podem (e querem) dar, da solidez das relações que mantêm, e até daquilo que uma relação realmente significa para cada um. Durante este período, que teve início entre Outubro de 2009 e Julho de 2010 e termina agora, os alunos mais atentos terão certamente revisto muitas noções pessoais acerca de parcerias, e talvez tenham tido revelações inesperadas. Com “boa nota”, passaram aqueles que tiveram a coragem de encarar os desequilíbrios nas suas relações, o que é verdade e o que é ilusório, e a sua própria capacidade de se relacionar (dar e receber).

Saturno em Balança não permite, por exemplo, a manutenção de ilusões românticas. Só aqueles que permaneceram firmemente de olhos e ouvidos fechados à lição saturnina – o que não acontece apenas por teimosia ou falta de coragem, mas por inúmeras razões pessoais – poderão ter conservado na sua plenitude uma visão ingénua e irrealista dos relacionamentos amorosos. Para todos os que foram pessoalmente tocados pelo trânsito, os insights podem ter chegado de diversas formas. Uns terão compreendido que a relação que mantinham não é adequada ao seu desenvolvimento pessoal; outros terão aceite o oposto, ou seja, terão tomado a decisão de se comprometer num relacionamento; outros ainda terão enfrentado a necessidade de se libertarem de expectativas, ideais, preconceitos ou medos. 

Saturno pede-nos para viver no mundo real. Em Balança, ele mostra-nos que um amor e uma cabana não são tudo, que nenhuma união é perfeita, que é difícil existirem separações sem dor, que as nossas escolhas podem fazer vítimas e danos colaterais, que nem sempre é possível identificar culpados e inocentes, que não é assim tão fácil encontrar “outra pessoa”, que o amante dos nossos sonhos provavelmente deveria ficar apenas nos nossos sonhos, que romper um relacionamento pode significar ter de aceitar a solidão, que não é assim tão mau estar sozinho, que podemos não estar preparados para amar e ser amados, que nada é mais valioso numa relação (como na vida em geral) que a verdade, e nada mais destrutivo que a mentira e a ilusão, que só podemos mudar a nós mesmos, e que não podemos exigir nada de ninguém, muito menos que nos faça felizes. 

Mas mostra-nos também que é possível ser genuinamente feliz aceitando a imperfeição, que os nossos defeitos nos afastam mais da felicidade que os defeitos do outro, que o mundo oferece as maiores surpresas a quem se abre às suas infinitas possibilidades, que a coragem dá frutos, que o tempo – regido por Saturno – tudo muda, tudo cura e tudo ensina, que nada se constrói sem estrutura, paciência e perseverança (e aquilo que cresce num instante cai num instante), e que seremos amados quando soubermos e quisermos amar.

Na verdade, Saturno sente-se bem em Balança, signo onde se encontra exaltado. Talvez a ternura e o encanto pessoal do signo aqueçam o coração deste mestre duro e taciturno, ou a sua constante procura da verdade encontre eco no amor de Balança pela equidade, justiça e imparcialidade; o facto é que a combinação de ambos está facilitada. A permanência de Saturno em Escorpião, que começou agora e terminará apenas em dezembro de 2014, será sem dúvida mais dura – especialmente para aqueles que não estudaram bem a lição anterior. Se em Balança a energia de Saturno explorava o tema dos relacionamentos do ponto de vista da consciência comum, em Escorpião ele vai mergulhar nas profundezas do inconsciente e analisar questões bem mais complexas, como a nossa necessidade de controlo do outro, as lutas de poder, a manipulação, o ciúme, o medo, a traição, os comportamentos obsessivos, as pulsões inconscientes, a capacidade de entrega incondicional, a vivência da sexualidade e a dissolução das barreiras físicas e psicológicas, o significado da verdadeira intimidade. Onde Balança encorajava a negociação, Escorpião exige uma vontade focada e, por vezes, implacável e irredutível. Como podem ver, este curso já não é para meninos do primeiro ano…