terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A vida é uma roda


Eu tinha um texto começado em Outubro que era assim: 

"Depois de um título com tanta categoria até bloqueei. A vida também pode ser um Carro, um Sol, uma Estrela, um Julgamento, uma prisão, um prado, um ciclo de oitenta anos a fazer bolinhos de canela com raspa de limão, um ciclo de oitenta anos a olhar para o horizonte, um ciclo de oitenta anos a colocar botox preventivo na testa desde os quarenta, que é o destino que eu tenho pedido a Nosso Senhor e que me disponho a trocar pelo actual; com as continhas para pagar, o carrinho utilitário, as viagens que faço de esfregona na mão para reduzir as despesas da minha guesthouse, que por acaso também é a minha casa. Mas este não é um texto neo-realista, é um texto de tarot, sobre a carta Roda da Fortuna. 

Não percebo grande coisa desta carta, mas resolvi escrever sobre ela porque o seu número, 10, remete para o mês de Outubro (eu disse que comecei a escrever isto em Outubro). E porque o seu significado incontestável é mudança e eu associo o Outono a mudanças: as folhas caem das árvores, as andorinhas vão-se embora para África, cheira a castanhas assadas ao pé da estação quando eu ainda estou a apanhar o comboio para a praia (um dia gostava de falar acerca disto com o Presidente da Câmara, ou com quem decide o dia em que acabam os gelados e começam as castanhas)". 

Curiosamente, e muito a propósito, eu também associo o início do ano a mudanças, desde há cerca de dez minutos e depois de reflectir sobre o assunto. Isto porque se bebe champanhe e se escreve listas de objectivos. Há até quem as enterre na terra, para que os objectivos floresçam como as flores, e há quem as enterre no vaso da vizinha, à falta de melhor. Neste momento muita gente sabe que em 2013 eu pretendo ser criativa, ir à praia e ter gémeos, mas como a lista não estava assinada, também não sofro muito com isso. Além de que o vaso não era da minha vizinha, mas da vizinha da Patrícia, a que rosna quando uma pessoa se engana na campainha. 

"Está então esclarecido que eu não sou uma grande especialista na carta, mas se deixo passar mais uns dias perco a oportunidade de escrever um texto cheio de pertinência – e custa-me que pensem que este contributo pessoal para uma aprendizagem do tarot não tem lógica nenhuma (ahahah). No entanto, a verdadeira razão porque escolhi escrever sobre esta carta prende-se com o facto dela surgir tantas vezes nas minhas leituras. Neste momento, supera largamente a outra, a do miúdo a fazer yoga."

Mas não é a vida assim mesmo? Precisamos de parar para prosseguir. Precisamos de nos preparar para a caminhada. Eu, pessoalmente, não sei decidir o que é mais importante. Acho que é tudo. Aliás, quando eu digo parar não quero dizer que as pessoas fiquem estanques e coladas ao chão. Há tanto que se faz enquanto não se faz nada. Eu fartei-me de crescer. Sendo a minha vida de um desinteresse absoluto, termino com a seguinte conclusão: ao sair a Roda da Fortuna preparem-se para grandes e boas mudanças. Esta carta costuma anunciar o novo. Fosse eu uma taróloga vulgar e era bem capaz de dizer que não há mal que sempre dure.

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