quarta-feira, 21 de março de 2012

O primeiro dia (do resto da tua vida)


Le Bateleur (o Mago), Tarot de Oswald Wirth
Em Portugal continental o Equinócio da Primavera teve lugar este ano às 5.14h de ontem, dia 20 de Março. Hoje, dia 21 de Março, comemora-se o Dia Mundial da Infância, o Dia Mundial da Árvore e da Floresta e o Dia Mundial da Poesia, mas também o início do ano astrológico, com o Sol a entrar no signo do Carneiro. Falta aqui, porém, uma antiquíssima celebração: a do Ano Novo.
Em 1582, a reforma do calendário Gregoriano fez da festa natalícia do Sol Invictus, que celebra o solstício de inverno, a marca do fim de um ano e o anúncio do início de outro, destronando oficialmente as celebrações equinociais ligadas às fases da lua. Relembremos que a mais antiga celebração do Ano Novo conhecida ocorreu na Mesopotâmia, em c. 2000 a.C., onde o ano começava por volta do equinócio da primavera, e o primeiro calendário romano, de base lunar, tinha início no dia 1 de Março. Até 1582, a Europa celebrava o Ano Novo em datas variáveis, mas próximas da Primavera, e em Portugal o ano civil começou a 1 de Março durante toda a Idade Média.
Estamos sem dúvida habituados a celebrar o Ano Novo no dia 1 de Janeiro, após o Natal e entre o frio do Inverno, ainda bem longe de qualquer “novidade” que não seja a do recente nascimento do Menino divino, para aqueles que O festejam. Mas é nos alvores da Primavera que toda a natureza comemora o Novo, vestindo-se para o receber com os seus melhores trajes, cantando-lhe as mais alegres melodias em coros de mil aves, perfumando o ar com as fragrâncias do jasmim e da laranjeira, despertando os nossos sentidos para a vida, e apresentando ao mundo os seus “primeiros frutos”.
Mas ainda será necessário esperar mais umas horas até ao verdadeiro início do novo tempo, já que só amanhã, dia 22 de Março, terminará o fim deste ciclo lunar, com a Lua Nova em Carneiro – tempo ideal para plantar as sementes de um novo projecto na terra primaveril, que desperta do pousio invernal sob os raios do Sol de Carneiro. Com o encerrar do ciclo lunar encerra-se também o ciclo astrológico, marcado pelo Sol em Peixes, último signo do Zodíaco.
No entanto, este começo não se fará sem alguma tensão, porque uma Lua Nova não é a melhor influência para um signo fogoso, impaciente e pioneiro como é o Carneiro. Mais do que plantar a semente na terra escura e esperar que ela se desenvolva oculta, o Carneiro desejaria vê-la já brotar e dar fruto. Além disso, Marte – o regente do Carneiro – está ainda retrógrado em Virgem, detendo o progresso desta energia muito exterior e masculina, e Mercúrio está retrógrado (desde 12 de Março) no próprio Carneiro (para além de Saturno, que está retrógrado em Balança). São muitas barreiras a deter o impulso criador e iniciador do Carneiro – mas certamente por uma boa razão.
Uma série de posições planetárias, incluindo Mercúrio retrógrado, tornam muito possível que não tenhamos acesso a toda a informação necessária para levar adiante os nossos projectos; outras exigem-nos que sejamos sobretudo práticos e terra-a-terra. Recordemos que por volta de 14 de Março os planetas Júpiter, Vénus (ambos em Touro), Marte (em Virgem) e Plutão (em Capricórnio) formaram no céu um triângulo perfeito, o raro “jackpot” das conjunções astrológicas e seguramente um dos melhores aspectos do ano, cujos efeitos duram cerca de três semanas, e que, por estarem em signos do elemento terra, nos falam de sentido prático, responsabilidade, acções eficazes no mundo real, regularidade, concentração, método, trabalho, dedicação e perseverança. Já a conjunção de Júpiter e Vénus em Touro recorda-nos que é indispensável não esquecermos os nossos valores pessoais fundamentais.
Portanto, seguremos a energia de Carneiro, não de forma a tolhê-la por completo – este é, de facto, um momento para novos começos, para agir, para seguir impulsos e realizar sonhos (e como não seria, com o Sol, a Lua e Urano em Carneiro?) – mas de forma a fazê-lo sem perder de vista o mundo prático, os limites individuais, materiais e sociais, e os valores pessoais de cada um. Este Carneiro de 2012 terá de ter alguma paciência, porque a Lua Nova, os planetas retrógrados e o cenário muito terra-a-terra que formam o pano de fundo no seu nascimento cósmico não são os melhores aliados da sua fogosidade.

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