segunda-feira, 26 de março de 2012

Tenho fases, como a lua - O quarto crescente

Margarida Cepeda, Lua Crescente
O simbolismo do crescente lunar é bem conhecido e auto-evidente. De forma geral, sabemos que o quarto crescente é considerado uma boa altura para cortar o cabelo e podar ramos, caso desejemos que estes cresçam mais fortes, e que é uma fase fértil, adequada à plantação e ao transplante de muitas espécies vegetais (aquelas cuja parte comestível cresce acima da terra). Podemos imaginar que os dias que medeiam entre a Lua Nova e a Lua Cheia são propícios à regeneração da vida, a todas as formas de criação, à tomada de iniciativas e ao começo de novos projectos.
Em termos religiosos, o simbolismo do crescente reflecte de certa forma esta visão mais prática da fase lunar[1]. No mundo judaico, a luz crescente desta lua simboliza o crescimento simultâneo da presença divina no mundo, entendida como o aspecto feminino de Deus. No Hinduísmo, o crescente simboliza o poder criativo do feminino e da natureza, sendo um dos símbolos do deus Shiva, o Transformador, parte da tripla deidade hindu. No Cristianismo, a associação da lua à Virgem está directamente relacionada com a passagem do Cântico dos Cânticos onde se pode ler quem é essa que desponta como a aurora, bela como a Lua, fulgurante como o Sol, terrível como as coisas gran­dio­sas (Ct. 6:10), e com uma citação do Livro do Apocalipse - apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça (Ap. 12:1). A transformação desta Lua no crescente lunar terá uma raiz pagã, uma vez que o crescente era um antigo símbolo da fase de donzela da Tripla Deusa.
Mas pouco se reflecte sobre o instante do pleno quarto crescente, também conhecido como primeiro quarto ou meia-lua, e cuja próxima manifestação terá lugar no 30 deste mês de Março, sexta-feira, às 19:41 de Lisboa. Então, a lua visível da Terra estará perfeitamente dividida entre a luz e a sombra, repetindo-se o equilíbrio cíclico dos opostos que se regista duas vezes por mês (no primeiro e no terceiro[2] quartos da Lua) e duas vezes por ano (nos Equinócios, quando se igualam as durações dos dias e das noites).
Sexta e sábado próximos são portanto dias adequados à harmonização do nosso ser – corpo, emoções, psique e mente –, momentos equinociais em pequena escala, mas que possivelmente não passarão despercebidos aos mais sensíveis às fases lunares. Até lá, vamos acolher os primeiros sinais de novas manifestações nas nossas vidas, que certamente surgiram com o tímido crescente dos três dias posteriores à Lua Nova (22 de Março), mas que agora se poderão revelar com mais clareza – assim estejamos dispostos a acolhê-los e nutri-los. Podemos também usar esta fase para “podar” aquilo que, em qualquer área das nossas vidas, está a evoluir de forma fraca ou desarmónica, e que queremos ver fortalecido ou corrigido. Esta poda simbólica, mas com efeitos geralmente bem reais, implica por vezes o corte de elementos a que estamos muito habituados, e pode portanto implicar dor e sentimentos de perda, pelo devemos estar conscientes de como fazer esta limpeza – tal como um bom jardineiro, de resto.
Quando chegar o pleno crescente talvez nos seja então possível fazer um balanço tranquilo e lúcido do ponto em que nos encontramos e do que tem vindo a mudar em nós, sabendo que a Luz crescerá sobre a sombra dia após dia, até que a próxima Lua Cheia venha orientar o seu foco iluminador para as nossas facetas encobertas.


[1] Já no mundo islâmico a importância dos astros resume-se essencialmente à contagem do tempo, e um novo mês principia no momento em que o crescente lunar se torna visível no céu a partir do 29.º ou do 30.º dia do mês em curso.
[2] Ou pleno quarto minguante.


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