quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vénus, a Harmoniosa

Sandro Botticelli, Nascimento de Vénus, 1486

Logo no início d'O Código Da Vinci, famoso livro de Dan Brown, o planeta Vénus é associado ao pentagrama através do padrão das suas conjunções com o Sol. Tal como outras afirmações do livro, esta deve ser encarada com bastante sentido crítico – mas não é inteiramente falsa.
Conjunções de Vénus com o Sol ao longo de 8 anos


Observada a partir da Terra, Vénus faz cinco conjunções inferiores (quando está entre a Terra e o Sol) ao Sol a cada 8 anos aproximadamente, o que significa, em termos gerais, que a Terra está cerca de 8/5 de um ano adiantada na sua órbita em relação a Vénus, e portanto que o Sol recai num ponto diferente e quase equidistante do Zodíaco de cada vez que ocorre uma conjunção. Isso significa que é possível, em termos conceptuais, construir uma estrela de cinco pontas quase perfeita no Zodíaco a partir dos pontos de conjunção entre Vénus e o Sol, ficando a Terra no centro. 

Naturalmente, tal estrela é imaginada por nós quando “unimos os pontos” das conjunções, e nada tem a ver com o movimento real do planeta, que na verdade formaria algo mais semelhante a uma flor de cinco pétalas.
  James Ferguson, Astronomy explained upon Sir Isaac Newton’s Principles, 1799
Traçado da "flor de cinco pétalas" representando 
as conjunções de Vénus com o Sol ao longo de 8 anos.
Porém, não nos devemos deixar levar demasiado pelo encontro de tal maravilha “oculta” no movimento dos astros. Não é necessário dobrar a verdade para que esta concorde com o nosso desejo de encontrar milagres no mundo; a verdade é sempre o milagre maior. 

Na realidade, as órbitas de Vénus e da Terra não ocorrem no mesmo plano e não são exactamente circulares, e o período sinodal do planeta (tempo que demora o seu regresso ao mesmo ponto no céu) não é perfeitamente coincidente, factos que inviabilizam o traçado real deste pentagrama nos céus. Na melhor hipótese, qualquer ponto de observação usado na Terra apenas permitiria desenhar um pentagrama irregular ou muito deformado. 
Mas Vénus estabelece outras curiosas relações com a Terra, justificando bem a sua fama de planeta harmónico. Uma vez que cada rotação de Vénus (cada dia venusiano) demora 2/3 de um ano terrestre, o planeta faz 12 (quase 13) rotações durante cada período de 8 anos. Ou seja, a cada 8 anos terrestres equivalem 12 dias venusianos e 5 conjunções (em pentagrama “conceptual”) de Vénus com o Sol, sendo que em cada conjunção Vénus mostra sempre a mesma face para a terra. A razão harmónica que rege a relação entre o ano terrestre e o dia venusiano, ou 2/3, equivale ao intervalo de uma das consonâncias musicais mais harmónicas, a quinta, como já afirmava Santo Agostinho.
Por outro lado, o traçado do pentagrama revela a razão 8/5, que equivale a 1.6, muito próximo do famoso Phi (φ) estudado na escola: φ = 1.618, o “número de ouro” dos Gregos, a partir do qual se encontraria a proporção perfeita, e que por isso foi desde sempre muito usado na arte e na arquitectura (sendo supostamente a base harmónica do próprio Parténon). O número de ouro também representa uma constante matemática presente no crescimento e desenvolvimento de muitos organismos, como conchas, partes do esqueleto humano, ou as colmeias.
Estas serão as medidas da nossa relação harmoniosa com Vénus, e uma das razões do poder de atracção que este planeta exerce sobre nós desde sempre, ampliado pela sua ligação à deusa do Amor e da Beleza. Nos próximos dias daremos alguma atenção aos Trânsitos de Vénus, planeta que neste ano de 2012 completa um importante ciclo, convidando-nos a mergulhar nos aspectos que governa: a intuição, o amor, a arte, a beleza e a criatividade, entre outros. De facto, este pode ser um ano de viragem para o Feminino em grande escala, se cedermos a este apelo do coração. E que a face encantada da deusa não nos iluda: o seu chamamento pode trazer uma incrível força vital para as nossas vidas, mas também nos forçará a encarar o abandono e a rejeição secular dos aspectos femininos do Ser, que teremos de trazer à consciência antes de poder curar.

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