terça-feira, 17 de abril de 2012

Tenho fases, como a Lua - a Lua Nova

Margarida Cepêda, Lua Nova
O Sol é o seu pai, a Lua a sua mãe; o vento embalou-o no seu ventre, a Terra foi a sua ama (Tábua de Esmeralda, Hermes Trismegistos)

Aguardamos nestes dias a Lua Nova ou Negra, a “boda alquímica” que acontece no momento da conjunção das duas grandes luminárias, quando a Lua está perfeitamente alinhada entre a Terra e o Sol. A verdadeira Lua Negra (a expressão “Lua Nova” deveria ser usada apenas para o surgimento do primeiro crescente lunar após a Lua Negra) dura apenas o breve momento da conjunção, que é único, e ocorre este mês às 8.18h de sábado, dia 21 de Abril, hora de Lisboa (embora o período de invisibilidade do astro aos nossos olhos possa prolongar-se até três dias).
Yin-Yang
Toda a manifestação é dual, formada pela eterna dança dos princípios masculino e feminino. Mas a origem da manifestação é unitária e não-polarizada, e a nostalgia deste estado de perfeita completude existe tanto na mais densa matéria como na mais subtil forma de consciência. A manifestação busca continuamente o regresso à Unidade e a transcendência da dualidade.
Uma Lua Negra é um momento extraordinário em si mesmo, simbolizando justamente o casamento cósmico do masculino e do feminino. A fusão da energia activa e ígnea do Sol com a energia receptiva e húmida da Lua constitui aquilo a que os alquimistas chamavam de união perfeita de fogo e água, secura e humidade, calor e frio, volátil e fixo, ouro e prata, vermelho e branco, espírito e alma, rei e rainha. Este momento sagrado repete-se a cada 28 dias, dando-nos mais uma possibilidade de vivenciar o estado de equilíbrio perfeito da Natureza – mesmo que, mês após mês, estejamos inconscientes da Graça periodicamente derramada sobre a Terra e sobre todos os seres que a habitam.
Rosarium philosophorum (1550)
Mas o Mysterium Coniunctionis (na expressão de C. G. Jung) não é apenas simbólico, actuando dentro de cada um de nós através dos arquétipos que regem o nosso inconsciente. O encontro sagrado das duas polaridades pode transformar realmente a nossa existência, particularmente no que respeita à união do Consciente (solar) e do Inconsciente (lunar), talvez a mais importante para o ser humano. De facto, o trabalho fundamental de uma vida, ainda que frequentemente ignorado, é trazer ao consciente o conteúdo oculto do inconsciente sombrio, para que não haja mais separação entre ambos, nem divisão na psique humana. Para o conseguir, é forçoso iluminar as nossas sombras, vendo-as e aceitando-as tal como são, e aceitando a dor e o medo deste processo. Tal aceitação equivale ao Sol, que sobre tudo derrama a sua luz e o seu calor, sem fazer distinções. Assim o Sol se encontra com a face negra da Lua.
Em muitas tradições se considera que a Lua Negra está enfraquecida, por não receber luz. Porém, lembremo-nos que a Lua Negra é fortemente iluminada na sua face escondida, e apenas a metade voltada para a Terra está escura. Isto significa que a sua força não é dirigida para a acção e para a manifestação neste mundo, mas reside na sua capacidade de interiorização e na sua viragem para a Luz cósmica. Tradicionalmente, a noite anterior a uma Lua Negra é a mais poderosa do ciclo. O desaparecimento total da luz é de facto um momento crucial para a Vida, quando todos os seres criados estão suspensos do seu regresso. Sexta-feira, dia 20 de Abril, será portanto uma noite propícia à introspecção, à meditação e à oração. Quem desejar acompanhar mais intimamente este momento pode fazer um pequeno jejum, aproveitando a energia lunar voltada para os processos interiores e para a purificação de todos os níveis do Ser.
Pelo contrário, os dias seguintes à Lua Negra – os dias da Lua Nova – são dedicados aos novos começos. É a altura perfeita para iniciar projectos, tomar decisões, e reproduzir a atitude e o entusiasmo que sentimos de forma geral a 1 de Janeiro, diante de um novo ano. A energia destes dias é jovem, criativa, audaz e focada, e pode ser canalizada para uma verdadeira transformação da nossa consciência e da nossa vida. É o momento certo para deitar novas sementes à terra, tanto em sentido figurado como literal. É também o momento certo para renovar e regenerar aquilo que está enfraquecido, para nos livrarmos de um vício ou mau hábito, para mudarmos algo em nós ou no quotidiano, para fazer planos.
No entanto, cada pessoa reage de forma distinta à influência das fases da Lua, e se para alguns será fácil sentir na Lua Nova a suave efervescência dos novos começos, das oportunidades e do potencial por realizar, para outros estes dias podem trazer uma sensibilidade acrescida, ou até alguma vulnerabilidade. É possível que experimentem flutuações de humor e de vitalidade, enquanto a sua psique vela a “noite negra da Lua”. Se for este o caso, lembrem-se - as promessas da Lua Nova concretizam-se na Lua Cheia!

Sem comentários:

Enviar um comentário