terça-feira, 15 de maio de 2012

Viver no presente: a lição de Vénus retrógrado



Já estamos há algum tempo sob a influência do iminente movimento retrógrado de Vénus, mas o trânsito tem início efectivo hoje, dia 15 de maio. Até 27 de junho, todo o potencial venusiano presente na Terra (tanto de forma colectiva como individual) estará focado no passado.

O ponto alto deste trânsito de Vénus será, sem dúvida, o seu raro desfile diante do Sol a 5 de junho, do qual falaremos com mais detalhe noutra ocasião. A passagem de um planeta diante do Sol causa um eclipse solar, mesmo que o planeta – como acontece com Vénus – esteja de tal forma distante da Terra que a visão do astro-rei não chegue a ser afectada. Um eclipse solar marca um novo princípio, e este surge sob os auspícios de Vénus, cuja face voltada para nós estará escurecida. No que respeita a Vénus, a “novidade” é a sua passagem a Estrela da Manhã, ou à fase diurna do planeta, tradicionalmente considerada “masculina” e benéfica. No que respeita a todos nós, a luz do Sol será lançada sobre o que jaz oculto nos domínios da deusa, mostrando-o na mais rigorosa verdade.

Vénus conduz-nos na direcção de todos os relacionamentos com o mundo exterior aos quais atribuímos um valor palpável, físico ou material. Isto significa, para além das relações humanas, a nossa relação com o dinheiro e os valores materiais, a nossa relação com a aparência das coisas (aquilo que consideramos belo) e a nossa relação com tudo o que nos traz prazer. E quando falamos de relação, falamos sempre de nós e do outro – seja ele outra pessoa, um carro, uma casa ou uma conta bancária, a nossa imagem devolvida num espelho, ou o prato que escolhemos num restaurante. O enfrentar deste “outro” ensina-nos quase tudo sobre nós mesmos. Até mesmo um momento tão banal como a leitura do menu do almoço proporciona a oportunidade de nos descobrirmos como seres moderados, frugais ou excessivos.

Esta projecção – o “outro” como nosso espelho – é de natureza venusiana, e o período retrógrado do planeta oferece-nos a possibilidade de rever todos estes tipos de relacionamentos. Mas “viver no passado” não é certamente a forma correcta de encarar um período retrógrado. Os ensinamentos dos maiores mestres da Humanidade podem-se geralmente resumir a uma meia dúzia de conceitos fundamentais, e um deles é o de viver no presente. Só o presente é real, lembrava Buda; do passado resta apenas a memória, e o futuro é mera antecipação do que ainda não foi realizado.

Como lidar, então, com as tendências retrógradas de Vénus, e com as situações muito concretas de retorno ao passado que este trânsito nos pode apresentar?

Tomemos um exemplo. O retorno, sob as mais diversas formas, de um “amor” do passado pode, se não estivermos centrados no presente, levar-nos a reviver nostalgicamente as emoções associadas a essa pessoa (sejam estas boas ou más), causando até o reacender de uma paixão antiga. A mesma situação, mas desta vez vivida por alguém que está equilibrado no momento presente, poderá resumir-se a uma observação emocionalmente desapegada da relação passada. Será assim possível retirar dela todas as suas lições e compreender o papel real que desempenhou na nossa vida, fortalecendo-nos para o futuro.

Se vivemos centrados e equilibrados no momento presente, nenhuma memória do passado ou antevisão do futuro nos pode destabilizar. Voltar o olhar para o passado resume-se a uma calma contemplação das situações apresentadas, sem a deturpação e a confusão causadas pelo envolvimento emocional excessivo. Como é por vezes extremamente difícil observar de forma objectiva uma situação na qual estamos presentemente envolvidos, a reavaliação do passado pode ser muito útil para sistematizar aprendizagens pessoais, agora sem o peso da emoção e do apego.

Por outro lado, a ideia de fazer uma revisão da vida aterroriza muita gente, particularmente aqueles que sabem, no fundo de si, que têm mudanças a fazer. Mas examinar um relacionamento não implica o seu fim. Tudo aquilo que é importante deve ser visto com olhos novos todos os dias, e não apenas num período retrógrado. Se esta é uma boa altura para resolver pequenas questões pendentes, porque não fazê-lo?

Outra situação que beneficiará certamente de uma reavaliação é a nossa relação connosco mesmos, e tudo o que nela está implicado – amor-próprio, estabelecimento de compromissos com os outros, capacidade ou incapacidade de sacrifício pelos outros, assertividade, necessidade de aprovação exterior, etc. Vénus, a deusa do amor, é apenas uma faceta de Ishtar ou Innana, a poderosa Senhora do Céu e da guerra (esta também chamada de dança de Innana). Despertando este arquétipo podemos aprender a ultrapassar uma falta de auto-estima ancorada em traumas do passado, renegociando relacionamentos que nos tolhem e afirmando-nos como indivíduos de pleno direito aqui e agora.

Ishtar, Moon Oracle, Caroline Smith / John Astrop
Porém, se um período retrógrado incita à revisão e reavaliação, não é por natureza favorável à tomada de acções concretas para alterar o estado das coisas. Especialmente nos domínios da deusa, não convém tomar iniciativas revolucionárias: é melhor esperar até ao início de julho para marcar um casamento ou decidir uma separação, lançar um novo plano de negócios, fazer um investimento financeiro, ou até mudar de cor de cabelo, dizem os astrólogos.

Em resumo, o trânsito retrógrado de Vénus e o eclipse solar daqui resultante terão o poder de nos dirigir o olhar para o passado dos nossos relacionamentos, ou para os nossos relacionamentos do passado. Este olhar, para ser verdadeiramente eficaz, deve ser tão objectivo quanto possível, tendo em conta que as relações que mantemos e valorizamos são o nosso espelho. A luz que iluminará este espelho, principalmente em torno do eclipse (entre 1 e 10 de junho), ajudará a ver distintamente os padrões que sustentamos nas nossas vidas, e a avaliar o quanto estes mesmos padrões ainda nos são úteis.

Lembremo-nos de Innana ou Ishtar, rodeada pelos seus leões, e encaremos com a sua determinação esta viagem aos aspectos mais frágeis de todos os nossos relacionamentos. Sairemos daqui seguramente mais fortes.

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